O colectivo Movimento reúne 12 músicos, entre eles quatro vocalistas, de áreas distintas da música portuguesa em torno de um repertório da música ligeira e pop de há quarenta anos.
Miguel Ângelo (ex-Delfins), Gomo, Selma (Wraygunn) e Marta Ren (Sloppy Joe) dão a voz a canções que foram antes cantadas por Carlos Mendes, Paulo de Carvalho, Tonicha ou pelos Sheiks, com uma nova produção assinada por Francisco Rebelo (Cool Hipnoise e Orelha Negra).
Na música, praticamente tudo se recicla e renova, volta-se atrás e dá-se um passo à frente, mas Miguel Ângelo quer dar outra interpretação a este grupo.
«Movimento vem no sentido daquelas associações de pessoas que se juntam para fazer algo. Criar um grupo coeso de pessoas que tem um objetivo que pode ser por o país a dançar. Gosto de pensar que tem uma conotação social e não é um mero entretenimento», disse à agência Lusa.
Cerca de metade do alinhamento passou por festivais da canção, como «Verão», cantada por Carlos Mendes, e «Fui ter com a madrugada», com Tonicha, ambos em 1968.
«Eu não gostava muito que o Movimento ficasse conhecido como o coletivo que faz o revivalismo aos temas do festival da canção. O que acabámos por escolher foram boas canções, bem escritas e que musicalmente nos diziam alguma coisa», afirmou Selma.
Movimento não quer ser mais um grupo com um disco de versões, garantiu Miguel Ângelo, porque há arranjos e leituras novas que aproximam as canções de uma toada soul.
É o caso de «Perto», originalmente interpretado pelos Sheiks e que foi adaptado para português por Jorge Cruz, dos Diabo na Cruz.
O alinhamento do disco foi escolhido a partir de uma seleção de 40 a 50 músicas daquela década, excluindo aqueles que estivessem politicamente mais comprometidos com a época.
A exceção foi feita a «E depois do adeus», interpretada por Paulo de Carvalho em 1974, e que encerra o disco de estreia dos Movimento.
A música «foi uma espécie de laboratório para perceber que misturas ficariam bem, por onde queríamos ir. É sempre muito difícil fazer uma versão não só pelas conotações políticas e sociais, mas pela interpretação do Paulo de Carvalho», explicou Miguel Ângelo.
Apesar de encerrar o disco, simboliza «todo o swing diferente» que os Movimento queriam dar ao projeto.
«É incrível ver como aquelas melodias colam tão bem com a Motown. Era o que se fazia na mesma altura em Portugal e nos Estados Unidos (...) O Francisco [Rebelo] fez um trabalho de depuração muito bom, tornou as coisas mais simples, mais diretas, mais soul, mais pop», referiu Miguel Ângelo.
Os próximos meses deverão ser de atuações ao vivo e algumas poderão ter como convidados os músicos que originalmente cantaram as canções de Movimento.
SAPO com Sílvia Borges da Silva (Agência Lusa)
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