Ao baixar das luzes, “Pure Morning” começou a ecoar em plano de fundo, para grande alegria dos presentes. Contudo, foi com “B3”, música do EP lançado em 2012, que os Placebo deram início ao segundo concerto de apresentação do álbum, lançado em setembro, em território nacional, depois de, no dia anterior, terem passado pelo Coliseu do Porto.

Os quatro anos volvidos desde a última passagem da banda por Portugal, em 2010, no Festival Marés Vivas, serviram para deixar saudosista uma multidão de portugueses, que se deslocou em massa até às duas salas. Formados em 1994, em Londres, os Placebo podem gabar-se de que o tempo passa por eles quase despercebido. Vinte anos é muito tempo e muita coisa muda, a começar pela audiência, que em Lisboa foi constituída, por um lado, pelos fãs fiéis da banda, que envelheceram com ela, já que 20 anos separam os 20s de Brian Molko, Stefan Olsdal e Steve Forrest dos 40s, e, por outro, dos fãs que 'os foram apanhando pelo caminho'. Mas o que ficou provado ontem, em Lisboa, é que 20 anos, o tempo que separa as guitarras distorcidas de “Nancy Boy” do lado mais electrónico de “Too Many Friends”, não parece tanto assim, musicalmente falando, já que tudo encaixa como num puzzle bem montado. Mas é facto que, há 20 anos, Brian Molko não poderia ter escrito uma letra sobre o isolamento, a solidão e a superficialidade das relações estabelecidas através das redes sociais e da grande autoestrada da internet, como esta última.

Os Placebo jogaram cuidadosamente com os flashbacks,permitindo que uma hora e meia de concerto cumprisse o seu propósito e não se transformasse num concerto ‘best of’. Houve tempo para os êxitos, como “Every you every me”, um dos primeiros e o maior recuo feito nesta viagem, de 16 anos, revisitando “Without you I’m nothing”, mas também para as novidades. A verdade é que a fórmula, ou a essência, utilizando um termo menos matemático, dos Placebo continua lá, e, desta feita, ampliada por mais três músicos em palco, para um som mais rico – uma raiva, angústia e até desânimo que mascaram a melancolia, as fragilidades e as vulnerabilidades de um estado de crescimento permanente, o que faz com que temas como “Rob the bank”, “A Million Little Pieces”, “Exit Wounds” e “Loud Like Love”, ainda que obviamente diferentes, encaixem bem com a nostalgia de “One of a Kind”, “A Song to Say Goodbye”, “Special K” ou até “Running up that Hill”, a versão de Kate Bush que os “Placebo de Londres”, como anunciados por Brian Molko, tão bem souberam tornar sua.

Um concerto de hora e meia de energia constante e com um Brian Molko mais comunicador e falador do que o que seria esperado. “Meds”, “For what is worth” e “The Bitter End” foram explosivas junto do público que, compactado na plateia, não baixava os braços e mostrava ter todas as letras na ponta da língua. Para o encore ficaram as poderosas “Post Blue” e “Infra-red”.

No final, um álbum novo de Placebo, uma visita prolongada a “Meds”, de 2006, e um pequeno toque em cada um dos restantes, com exceção do álbum homónimo. Em 20 anos muita coisa muda, mas os Placebo mostraram que ainda são capazes de dar um concerto de encher as medidas e de 'chorar por mais', fazendo perpetuar a banda e o número de fãs devotos, de ano para ano, de registo para registo.

A primeira parte ficou a cargo dos Oso Leone, que foram brindados com um Coliseu já cheio e impaciente. Os espanhóis vieram apresentar o álbum de estreia homónimo e o seu som invulgar, depois de terem passado também, ainda este verão, pelo festival Vodafone Paredes de Coura. O ritmo de percussões fortemente vincadas, ou não estivessem duas baterias em palco, fundiu-se de forma harmoniosa e delicada com os restantes elementos musicais, sendo as melodias apresentadas muito cristalinas, puras e simultaneamente cheias. Uma experiência de folk rock que foi mais perceptível dentro de uma sala fechada do que quando os vimos no festival minhoto. Ainda que apenas tenham feito uma atuação de 30 minutos, conseguiram captar a atenção do público, sendo que os cinco elementos da banda pareciam realmente divertidos em cima do palco.

Alinhamento Placebo:

B3
For what is worth
Loud Like Love
Every you Every me
Scene of the crime
A million little pieces
Twenty Years
Too many friends
Rob the Bank
Purify
One of a Kind
Exit Wounds
Meds
Song to say goodbye
Special K
The Bitter End

Encore

Begin the end
Running up that hill
Post Blue
Infra-red

Texto: Rita Bernardo

Fotografias: Manuel Casanova