Figura querida do panorama da música nacional, transversal a várias gerações, como se comprovou pela heterogeneidade do público que ocupou as cadeiras do coliseu, Sérgio Godinho, cantor-compositor, cronista do amor e dos estados da nação, dispensa apresentações.
Com as três primeiras canções de “Mútuo Consentimento” abriu-se o espetáculo, cabendo a liderança a Música na Mão, canção poema, maioritariamente declamada. A este hino à música e a tudo o que nela possa caber, seguiram-se Bomba Relógio, escrita originalmente para Cristina Branco, e Acesso Bloqueado, onde se discorre sobre as incertezas face ao presente e ao futuro vividas nos nossos dias.
Mais adiante, “Mútuo Consentimento” volta a surgir com Em Dias Consecutivos, numa valsa lúgrubre, “invernosa”, como disse o próprio (co)autor, nascida da vontade de trabalhar em conjunto com o pianista Bernardo Sassetti, e com a faixa título, uma espécie de adaptação melódica de Large Amounts, de Minta & The Book Trout, projeto de Francisca Cortesão, uma das muitas colaboradoras neste novo disco.
Praticamente no início do espetáculo, Sérgio Godinho prometeu-nos retratos atuais e outros mais distantes. Entre as novidades e os clássicos, ficou comprovada a intemporalidade das canções, como por exemplo em Arranja-me um Emprego, lançada em 1979, mas tão pertinente hoje em dia. E do acervo inesgotável do autor não faltaram outros clássicos, como a história de Etelvina, onde o uso da palavra “boeiro” remete para as origens nortenhas do cantor, Balada da Rita e Coro das Velhas, entre outros tantos.
As Certezas do Meu Mais Distante Amor cantou-se com companhia de uma guitarra, na borda do palco, num momento de maior intimidade patrocinado por ajustes cénicos, com vista à entrada da Roda de Choro de Lisboa, para o último regresso a “Mútuo Consentimento”, com Intermitentemente. Não te deixes assim vestir, foi também abrilhantado por estes amantes do chorinho, género de música carioca, ao qual se juntaram os Assessores, banda que acompanha o Sérgio Godinho, para uma fusão de estilos em Cuidado Com as Imitações.
A primeira despedida chegou com O Primeiro Dia, tendo Sérgio Godinho ressurgido sozinho para o primeiro encore, inaugurado com Espectáculo e Elixir da Juventude. Os sete instrumentistas que formam os Assessores voltam ao palco para O Homem dos Sete Instrumentos. São de destacar os arranjos cuidados, onde imperaram os detalhes, que acompanharam e abrilhantaram as histórias ao longo do concerto.
Com o público em pé, o fim fez-se pela mão de Com Um Brilhozinho dos Olhos, onde às vozes de Sérgio Godinho e do Coliseu se juntaram em palco, para além dos Assessores, os elementos da Roda de Choro de Lisboa.
Alinhamento:
Mão na Música
Bomba Relógio
Acesso Bloqueado
Já Joguei ao Boxe, Já Toquei Bateria
A Vida É Feita de Pequenos Nadas
Arranja-me um Emprego
Em Dias Consecutivos
Mútuo Consentimento
Liberdade
Etelvina
Só Neste País
Pode Alguém Ser Quem Não É
Às Vezes o Amor
Não Respire
As Certezas do Meu Mais Brilhante Amor
Intermitente
Não Te Deixes Assim Vestir
Cuidado Com as Imitações
Quatro Quadras Soltas
Parto Sem Dor
Balada da Rita
Dancemos no Mundo
Coro das Velhas
O Primeiro Dia
Espectáculo
O Elixir da Eterna Juventude
O Homem dos Sete Instrumentos
Com um Brilhozinho nos Olhos
Texto: Ariana Ferreira
Fotografias: Cláudia Moura
Comentários