“Não devemos colocar barreiras entre as músicas, há muitas outras músicas interessantes além da música clássica”, disse o director dos Serviços de Música da Fundação, Risto Nieminen.

“Para mim – prosseguiu - é algo natural, e nós sabemos que muitos compositores clássicos inspiraram-se nas tradições populares, além de haver tradições eruditas noutras culturas”.

O ciclo iniciou-se em Outubro com o Anouar Brahem Quartet, da Líbia, e prosseguiu em Novembro com Jordi Savall, que apresentou “Istambul 1710. O livro da Ciência da Música”, de Dimitri Cantemir.

Os dois concertos esgotaram, o que demonstra ter sido uma boa aposta da Temporada de Música da Gulbenkian.

O próximo espectáculo – “praticamente esgotado” - acontecerásábado às 21 horas, pela israelita Yasmin Levy, que se apresentou quarta-feira na Casa da Música, no Porto.

Na segunda-feira sobe ao palco do Grande Auditório da Fundação o Al-Kindi Ensemble, da Síria, para um concerto já esgotado.

Referindo-se a estes dois espectáculos, Risto Nieminen afirmou que “trazem duas tradições musicais diferentes: a ibérico judaica [no caso de Levy] e a muçulmana, que se cruza com a cristã no caso dos Al-Kindi”. O grupo sírio apresentará “Stabat Mater Dolorosa” (Homenagem cristã e muçulmana à Virgem Maria).

“Conheço os artistas há mais de 15 anos, já tinha trabalhado com eles, nomeadamente em Helsínquia e em Paris, no Institut de Recherche et Coordination Acoustique/Musique”, referiu.

“Na realidade, as profundas raízes musicais destas três religiões - judaísmo, islamismo e cristianismo - são as mesmas”, disse o musicólogo.

Referindo-se ao concerto de Yasmin Levy, que já actuou em Sines no Festival de Músicas do Mundo, Risto Nieminen afirmou que a cantora faz “um trabalho de musicologia” ao não mexer nas letras e melodias originais.

Levy canta as canções antigas dos sefarditas (judeus expulsos da Península Ibérica no século XVI), “sem alterar a letra ou a melodia e apenas com novos arranjos e no seu concerto integrará canções de Leonard Cohen”, explicou.

O ciclo “Músicas do Mundo” prossegue com os sons latino-americanos do argentino Melingo, seguindo-se a indiana Anoushka Shankar, ambos em Março.

“Há hoje um grande número de artistas portadores destas tradições. Eu gosto de falar de música em geral e há muita música que é interessante escutar”, afirmou o director dos Serviços de Música da Gulbenkian.

Nieminen adiantou à Lusa que este ciclo regressará na próxima temporada (2011/2012), porque “há interesse na descoberta destas músicas, é algo de novo que se oferece e o público mostra interesse”.

Por outro lado, reconheceu, “refresca a programação” da temporada de música.

“Há de facto interesse do público neste tipo de música, mas não há ainda em Portugal muitos promotores”, lamentou o responsável.

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