Caetano Veloso e Gilberto Gil. Só de saber que estes dois tocariam juntos, aguçaram o apetite a comparecer ao Parque dos Poetas, em Oeiras, para o último dia do EDP CoolJazz. Quando soaram os primeiros acordes do Back to Bahia, tivemos logo uma confirmação. O concerto irá aquecer e combater o frio.
Há concertos que se requer uma interacção com o público, trocar umas palavras, conversar um pouco, enfim, satisfazer as necessidades da audiência. Há outros que não. Que basta contemplar e vê-los tocar. Foi esse o caso deste concerto. Não foi necessário trocar muitas palavras (foi só mesmo um olá e adeus), até porque o concerto todo foi um permanente contacto com o público (ou parte dele, visto que havia quem estivesse mais preocupado em conversar com o amigo do lado do que apreciar a vinda de dois artistas que não tocavam juntos em Portugal desde 1969). Mas quem queria ouvi-los não se fez rogado.
Falar destes dois baianos, mais do que símbolos da Música Popular Brasileira, são da cultura e também política, pela resistência à ditadura militar que se fez sentir nos anos 60 em terras de Vera Cruz, em passados 50 anos, são coisas que não se fazem esquecer, como se pode notar pelo Tropicália ou Terra (capaz de ter sido o primeiro grande momento em que o público se tornou um coro). Para além das músicas em português, não faltam momentos mais poliglotas com o Nine Out of Ten ou Tonada de Luna Llena, que exemplificam que a resistência e a sua forma de divulgação expressaram-se além-português.
Com uma alternância de músicas, ora de Caetano Veloso ora de Gilberto Gil, mais que uma cumplicidade de olhares, uma de violões. Cada um sabia perfeitamente ao que vinha, ou não fossem amigos há mais tempo que a própria vida. E por falar em vida, há que falar do "Não Tenho Medo da Morte", de Gilberto Gil, que proporcionou um momento de silêncio (muito bonito, entenda-se) do público.
É peremptório dizer que o concerto foi subindo gradualmente de intensidade e de interesse. Foi a partir do meio do espectáculo (que teve um alinhamento longo, o que é uma lufada de ar fresco), que o público começou a ligar-se mais com as músicas mais do Gilberto Gil do que o Caetano Veloso. Melhor exemplo? O Expresso 2222, que partiu de Bonsucesso para Oeiras.
Já na recta final, e com Caetano Veloso a largar o violão para trocar uns passinhos de dança, Toda Menina Baiana e Andar com Fé foram perfeitos para ir ao Brasil sem sair de Portugal.
Para sobremesa, entenda-se encore, estava guardado o melhor. Desde que o samba é samba e Domingo no Parque foi engenhosamente guardados para serem cantados mais pelo público do que pelos dois artistas, sendo que a despedida fez-se ao som d'A Luz de Tieta, onde se repetiu o refrão mais vezes, para aquecer ainda mais o coração e o corpo, dadas as condições climatéricas.
$$gallery$$Com tantas músicas no alinhamento, ainda se ouviu uns assobios no final, sinal que todos queríamos mais um pouco. Mas que dizer? O concerto podia ter o dobro do alinhamento que nós não nos importava de ficar a ouvir. Ficou a faltar Aquele Abraço, mas esse foi materializado em palco.
Fotografias de Rita Sousa Vieira
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