É uma “relação de vários anos”, a deste espaço cultural com o artista, e que vem já desenvolvendo “várias camadas”, destacou o diretor artístico de Serralves, Philippe Vergne, numa visita guiada à imprensa.

A exposição, com curadoria de Filipa Loureiro, reflete a passagem de Tarek Atoui pelo Porto e por Serralves, em 2018, altura em que trabalhou em parceria com o museu para captar os sons do porto de Leixões, onde encontrou “um aspeto muito interessante, o nevoeiro”, que transmitem uma dimensão onírica, revelou o artista.

O que traz agora tem também áudios dos portos de Abu Dhabi e Atenas, e são transmitidos de pedras, metal e madeira.

Há uma intenção de “criar circuitos”, que em Serralves ganham outra dimensão, partindo também para o orgânico.

“Todos estes circuitos de ligar a indústria, a pedra, a materiais orgânicos é a parte entusiasmante”, confessou.

Essa outra dimensão ocupa dois locais do parque de Serralves, começando pela magnólia junto à entrada do museu, numa instalação que “continua a ser sobre um circuito que não é só eletrónico, mas tem o ambiente em consideração”.

O som é transmitido através de um microfone instalado na árvore. “O toque mais leve na árvore ouve-se nas pedras à volta – ouve-se o vento ou a chuva”, explicou.

No segundo local, junto ao espelho de água, há uma “diferente conexão entre os elementos” e o que se ouve, ainda ténue, vem de um microfone instalado dentro de uma torre de composto.

“Mal conseguimos ouvir [o som da instalação], ouvimos a natureza. Mas mal sabemos de onde vêm os sons. Aqui o fundamental é a torre de composto. Este composto é muito novo por isso o som é muito tímido. Mas vai envelhecer e transmitir sons mais nítidos”, afiançou Tarek Atoui.

Quando chegou àquele espaço ficou “fascinado com o tanque”, o espelho de água, e quis captar os barulhos daquele ecossistema, com microfones hipersensíveis que foram colocados dentro de água.

O resultado foi dececionante, porque não havia ali sons, mas espera “voltar no verão, quando aquecer e isto se tornar num habitat”, para captar o barulho da vida naquele tanque.

Enquanto a natureza faz o seu trabalho, é possível ouvir os sons ainda tímidos das minhocas portuguesas, que são menos barulhentas que as francesas com que testou a experiência em laboratório, brincou.

Ao longo dos seis meses em que a exposição estará patente, haverá também vários momentos de “ativação”, com performances e concertos em que outros artistas são convidados a interagir com aqueles ecossistemas sonoros.

O primeiro é já esta noite, com a performance de Alan Affichard, Diana Combo e Tarek Atoui, mas também já está planeada uma atuação da trompetista Susana Santos Silva, a 13 de março, e da Sonoscopia a 19 do mesmo mês.