Nesta criação, as atrizes Diana Narciso e Rita Delgado, que se conheceram quando ambas estagiaram no Teatro Nacional D. Maria II durante um ano, partiram das suas biografias para trabalharem um espetáculo sobre a identidade de ambas, e refletirem sobre a maneira como ambas olham para a maternidade, embora ainda não sejam mães, disseram à agência Lusa.

Após ter-lhes surgido a ideia, as criadoras acharam que fazia sentido pôr o espetáculo num campo paralelo, abrindo a relação com a matéria cósmica, trabalhando a existência num conceito de interdependência universal, acrescentou Diana Narciso.

Aqui, "as leis da Física" cruzam-se com a "Ficção" e operam de maneira insólita: Espaço e Tempo reorganizam-se perante a força exercida pela dinâmica relacional gerada entre as três mulheres sobre as quais se centra a ação, convidando o espectador a refletir sobre laços maternos, intimidade, individualidade, ciclos e interdependência.

Somos feitos da mesma matéria e partilhamos com as estrelas 97% do mesmo tipo de átomos, referem as criadoras que, no espetáculo, questionam se, quando olhamos para o céu, vemos o passado.

“E será que também o podemos ver em nós?” e “a minha identidade comporta a identidade da minha mãe?”, interrogam-se, equacionando as dúvidas durante a peça.

Olívia, Maria e Joana são as personagens em palco, Olívia é mãe de Maria, esta é mãe de Joana que, por sua vez, é mãe de Olívia. Um círculo possível entre as leis da Física e da Ficção.

Excluindo da equação o parentesco de avó, o dispositivo cénico da peça gira todo em torno de três mulheres todas mães e filhas umas das outras.

A educação e a transmissão da herança social são outros dos temas que perpassam a ação.

O cenário fixa-se num lugar cósmico, onde as regras do tempo são maleáveis, permitindo que os graus de parentesco vivam “um pouco da ficção e que componham um ciclo onde todas são mães e filhas”, referiu Rita Delgado.

“Ou seja, estamos a falar de uma coisa que não pode acontecer na vida real”, observou Rita Delgado.

O que as criadoras queriam pôr em foco, no entanto, eram “as relações de mãe e filha”, sublinhou Diana Narciso.

Num cenário fixado num ambiente galáctico, num planeta desconhecido sem tempo concreto, onde o chão tem uma textura acastanhada e onde não faltam rochas, o espetáculo conta ainda com uma projeção ao vivo, em vídeo, do céu deste não-lugar, com imagens do universo e de nebulosas que irão coabitar o local tornando-se num organismo vivo à medida que a ação do espetáculo se vai desenrolando.

“As estrelas que hoje vemos já morreram há 100 anos” vai estar em cena até 27 de fevereiro, na Escola ao Largo, no Chiado, em Lisboa, com sessões de quinta-feira a sábado, às 19h30, e, ao domingo, às 18h30.

Dias 27 e 28 de março, a peça, uma coprodução com a Santarém Cultura com apoio da Direção-Geral das Artes (DGArtes), estará em cena no Teatro Sá da Bandeira, em Santarém, e, a 2 de julho, no Cine-Teatro de Almeirim.

Além das duas criadoras, a interpretar está também Matilde Jales.

Com apoio dramatúrgico de Joana Bértholo, a peça tem cenografia e figurinos de Joana Subtil, sonoplastia e composição musical de Pedro Melo Alves, desenho de luz de Diana dos Santos e vídeo da Temper Creative Agency.