Publicado originalmente em 1906, este livro de contos, agora traduzido para língua portuguesa pelo poeta e investigador Miguel Filipe Mochila, inaugurou, à época, um novo género na literatura sul-americana: o conto fantástico.

“As forças estranhas” é considerada uma das obras mais inovadoras e influentes do século XX, tendo merecido a admiração de escritores como Jorge Luís Borges, que o incluiu na sua famosa coleção de literatura fantástica, a Biblioteca de Babel, destaca a editora.

Dividido em 12 relatos e uma “Cosmogonia” em 10 lições, Leopoldo Lugones recria ambientes mitológicos, bíblicos e populares, em que o perigo das invenções da ciência, a irracionalidade da fantasia e o misticismo religioso convivem lado a lado, propondo uma nova indagação dos limites da realidade e das forças que regem o universo e a vida.

Leopoldo Lugones (1874 – 1938) é autor de vários volumes de prosa, entre os quais se contam romances, ensaios, escritos políticos, peças de teatro e uma obra poética que inicia com a publicação de “Las Montañas del Oro”, em 1897, e se impõe com “Lunario Sentimental”, de 1909, “Odas Seculares”, de 1910, ou, em tom épico, “Romancero”, de 1924.

Nos seus contos – que estão incluídos em “As Forças Estranhas” e no volume “Cuentos Fatales”, de 1926 – o autor expõe a crise de consciência religiosa, o cientificismo ou o elogio do decadentismo de finais do século.

Leopoldo Lugones foi um dos expoentes argentinos do modernismo latino-americano e escreveu um romance denso, intitulado “La guerra gaucha” (1905).

A par da sua atividade literária e jornalística, desempenhou um papel ativo na vida social e política do seu país, tendo sido diretor, de 1915 até à sua morte, da Biblioteca Nacional de Maestros em Buenos Aires, e fundado a Sociedade Argentina de Escritores.

Também foi um jornalista, polemista e orador apaixonado, que começou apoiando o socialismo, mais tarde tornou-se conservador e acabou a apoiar o fascismo, tendo dado o seu apoio ao golpe que, em 1930, instaurou uma ditadura no seu país.

Profundamente deprimido, Lugones acabou por se suicidar no início de 1938.

A Cavalo de Ferro publica também este mês uma obra da literatura francesa e mundial sobre a Revolução Francesa e o terror jacobino, intitulada “Os deuses têm sede”, do escritor Anatole France (1844 – 1924), Prémio Nobel da Literatura em 1921.

Este romance, arredado das livrarias portuguesas desde 1976, e agora editado pela Cavalo de Ferro, com tradução de João Cabral do Nascimento, traça um retrato psicológico e social do extremismo ideológico e da subversão dos princípios de justiça, igualdade e liberdade.

O cidadão Evaristo Gamelin é um jovem artista, fervoroso apoiante da Revolução e dos seus ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.

Quando a euforia e o otimismo inicial das ruas são substituídos pelos anos sombrios do Terror, as recém-eleitas autoridades veem em Gamelin o candidato ideal para desempenhar o cargo de jurado do Tribunal Revolucionário.

Sedento de justiça e munido do poder de enviar para a guilhotina qualquer suspeito, Gamelin em breve se torna uma personagem admirada e temida, acabando por se tornar vítima da própria História.

Por debaixo de um irónico ceticismo, Anatole France esconde desencanto pela sociedade moderna, características vertidas na escrita e que fizeram dele “um gigante das letras que confronta um mundo perplexo”, como descreveu o The New York Times.

Filho de um livreiro, Anatole France, pseudónimo de François-Anatole Thibault, desempenhou funções na Biblioteca do Senado, ao mesmo tempo que escrevia artigos de crítica e publicava poesia em jornais e revistas, tendo sido eleito membro da Academia Francesa em 1896.

Experimentou vários géneros literários, mas foi no romance que a sua vocação de escritor mais se evidenciou. O seu primeiro sucesso surge com “Thaïs” (1890), reevocação decadente do período clássico, adaptado a libreto da ópera homónima, composta por Massenet e hoje em dia parte integrante do repertório tradicional.

Seguiram-se outros romances famosos, que marcaram em definitivo o seu estilo e o seu interesse por temas sociais e políticos.

A Cavalo de Ferro já publicou anteriormente “A revolta dos anjos”, livro de 1914 e último romance escrito pelo autor.