Na quinta-feira, questionados pela Lusa, os socialistas anunciaram que pediram, numa carta aberta dirigida ao presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, que Tiago Guedes fosse ouvido na reunião do executivo, remetendo a sua posição definitiva para esse debate.

De acordo com fonte partidária, essa audição vai acontecer à margem da reunião de segunda-feira, numa reunião informal e privada marcada para as 09:00.

Segundo a mesma fonte, os vereadores foram convidados para esta "reunião informal privada" para serem esclarecidos pelo presidente da autarquia e pelo próprio diretor do Teatro Municipal do Porto sobre as acusações de censura de que a direção da estrutura municipal tem sido alvo por parte da comunidade artística.

Na quinta-feira PS, PSD, CDU e Bloco de Esquerda exigiram um esclarecimento cabal sobre estas denúncias que, caso se venham a confirmar, salientam, são inaceitáveis.

O PAN defendeu que o município deve abrir um inquérito interno para se apurarem os factos sucedidos, acrescentando que caso venham a confirmar-se os factos, trata-se de um "comportamento inaceitável".

No dia 3 de fevereiro, a dramaturga Regina Guimarães acusou a direção do Teatro Municipal do Porto de censurar um texto da sua autoria, escrita para integrar a folha de sala do espetáculo “Turismo”, da Companhia A Turma, com texto original e encenação de Tiago Correia, que esteve em cena nos dias 31 de janeiro e 01 de fevereiro, no Teatro do Campo Alegre, no Porto.

Em causa está uma nota de rodapé onde a escritora critica a noção de “cidade líquida” de Paulo Cunha e Silva, antigo vereador da Câmara do Porto, que morreu em 2015.

Numa primeira reação, na madrugada do dia 04, Tiago Guedes, em declarações à Lusa, garantiu que o texto da dramaturga não tinha sido publicado com a concordância do encenador do espetáculo, e que o mesmo tinha-lhe até pedido desculpa.

Contudo, essas declarações foram desmentidas, no próprio dia, pelo encenador do espetáculo Tiago Correia, numa publicação na rede social Facebook, onde acusou o diretor do Teatro Municipal do Porto de "chantagem emocional, coação, ameaça e abuso de poder".

Questionado pela Lusa, e já depois do desmentido de Tiago Correia, o Teatro Municipal do Porto, reiterou a versão contada pelo seu diretor, afirmando novamente que Tiago Guedes "articulou com o encenador da peça em causa a sua não distribuição, tendo obtido a sua concordância, como o próprio seguramente confirmará".

Depois da denúncia da dramaturga de Regina Guimarães, foram tornados públicos pelos profissionais outros casos de alegada censura.

É o caso da Associação de Profissionais das Artes Cénicas que agrega profissionais de 30 estruturas do Norte do país, que não só repudiou o ato de censura ao texto de Regina Guimarães como apontou outros exemplos.

A associação que agrega cerca de 90 profissionais e mais de 30 estruturas do norte de Portugal afirmava, à data, que "foi assim aquando da não realização, em setembro, do projeto de abertura da temporada no Teatro Municipal, foi assim, em outubro, no lançamento de um livro no Teatro Rivoli" e "foi assim na eliminação da folha de sala do espetáculo ‘Turismo' por causa de uma nota de rodapé".