Com muito por provar e uma polémica crescente em torno do tema da troca de vocalista, o concerto de abertura da digressão mundial "Rock or Bust" aconteceu este sábado no Passeio Marítimo de Algés.

Quando a notícia sobre a entrada de Axl Rose como vocalista dos AC/DC chegou, as reações não podiam ter sido mais diversificadas. Entre curiosos e revoltados, muitos chegaram a devolver os seus bilhetes por se recusarem a ver o concerto sem Brian Johson como vocalista principal.

Para piorar a situação, a data do concerto teve direito ao maior dia de chuva das últimas semanas e o recinto transformou-se num mar de impermeáveis coloridos.

Mas pouco a pouco vimos o enguiço começar a dissipar-se: o céu voltou a ficar azul e parou de chover mesmo a tempo do início da primeira parte com Tyler Bryant and the Shakedown.

Já tinha anoitecido quando chegou a hora de os veteranos subirem ao palco e toda a plateia cintilava com os adereços para a cabeça em forma cornos do diabo. Se tinha havido devoluções, ninguém que ali estava percebia.

O recinto estava cheio, completamente a abarrotar, e as pessoas juntavam-se umas às outras na esperança de estar um passo mais perto dos seus ídolos. Tudo começou com uma produção visual de fazer arregalar os olhos, e o palco dos AC/DC ganhou vida rebentando em chamas para dar lugar a "Rock or Bust", a primeira faixa da noite, e aquela que dá nome à digressão mundial da banda.

Era este o momento solene, o momento dos juízos de valor em que Axl Rose tinha de mostrar do que era capaz. E bastou uma primeira nota para que o novo vocalista dos AC/DC arrebatasse a plateia. Sentado numa pequena poltrona, cortesia da sua perna partida, Axl Rose mostrou desde logo que andar de pé seria a única coisa que não seria capaz de fazer.

Após ter conquistado o público nos primeiros segundos, a banda não se poupou e presenteou-nos com alguns dos seus maiores sucessos de seguida. "Shoot to Thrill", "Hell Ain't a Bad Place to Be" ou mesmo "Back in Black" foram algumas das faixas com que o o público entrou em histeria, ao passo que o novo vocalista mostrava o seu valor ao chegar às notas mais altas.

A excitação crescia e nem o vento e frio que se faziam sentir pareciam abrandar o ritmo e o entusiasmo dos fãs da banda que atingiam um novo pico de excitação com mais um dos trunfos dos AC/DC: "Thunderstruck" foi, de facto, eletrizante, desde o simples jogo de luzes à própria postura do público, e até o riso maquiavélico de Axl Rose ajudou à festa.

No entanto, desenganem-se se pensam que Angus perdeu algum protagonismo perante a nova estrela da noite. O guitarrista e alma da banda manteve a sua imagem de marca, tocando com uma sabedoria e estilo adquiridos, e fazendo as delícias dos fãs com o seu vestuário habitual de casaco e calções. Com uma mão, com duas, de pé, no chão, ou mesmo com uma gravata, Angus não desiludiu e voltou a mostrar a sua importância em mais um concerto memorável para os fãs de AC/DC.

Devido à lesão do novo vocalista, seria de esperar que o mítico sino da banda não estivesse presente. Contudo, o simbolismo permaneceu e o sino surgiu a tempo de "Hells Bells", por mais que Axl Rose não pudesse ajudar com algumas badaladas.

Sempre bem humorado, o novo vocalista não se mostrou acanhado nesta sua nova casa, tendo-se dirigido ao público em várias ocasiões, contando pequenas histórias ou piadas. "Eu já bebia qualquer coisa. Vocês são muito intimidantes, principalmente com esses cornos a cintilar. Sabiam que os AC/DC são os maiores exportadores de cornos do diabo?", gracejava, antes de dar lugar a "Have a Drink on Me".

Depois de "T.N.T.", houve ainda espaço para mais uma figura simbólica com a faixa "Whole Lotta Rosie": "Vocês devem conhecer esta rapariga. Foi a primeira música que eu ouvi dos AC/DC, na altura em que se ouvia rádio. Já lá vão esses tempos...", dizia enquanto a figura de "Rosie" se erguia no palco numa  ilusão em três dimensões.

Após uma curta pausa, onde Angus preencheu o vazio com uma sucessão de solos como só ele sabe fazer, chegou uma chuva de confetti com o guitarrista nas alturas, e de seguida um pequeno encore que começou com a faixa "Highway to Hell".

Precedida de "Riff Raff", "For Those About to Rock (We Salute You)" foi a faixa que encerrou o concerto inaugural desta nova digressão mundial dos AC/DC, trazendo os famosos canhões para o palco, e encerrando a noite com um pequeno espetáculo de fogo de artifício.

O maior medo dos fãs de AC/DC está agora superado e Axl Rose pode manter a cabeça erguida perante um sucesso estrondoso na sua apresentação aos fãs da banda, no primeiro concerto desta nova digressão que teve o seu começo em Portugal. Para além disso, os AC/DC continuam a lembrar que um grupo com mais de 40 anos tem de ser realmente excepcional para continuar a arrastar multidões e a arrebatar sorrisos como fez em Lisboa.

VEJA AS FOTOS DO CONCERTO (FONTE - Ana Castro e Lusa):