A fadista Celeste Rodrigues, irmã de Amália, morreu esta quarta-feira, dia 1 de agosto, aos 95 anos. A artista contava com mais de 70 anos de carreira. A notícia foi confirmada pelo neto, o realizador Diogo Varela Silva na sua conta no Facebook.

Celeste Rodrigues, depois do convite para cantar no Casablanca, fez parte de uma companhia teatral que seguiu em digressão para o Brasil, e em que era vedeta a sua irmã Amália Rodrigues, e que apresentava a opereta "Rosa Cantadeira" e a revista "Bossa Nova".

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Nascida no Fundão, em 14 de março de 1923, a irmã de Amália Rodrigues iniciou a carreira há 73 anos, ao aceitar o convite feito pelo empresário José Miguel (1908-1972), detentor de vários teatros e casas de fado, entre os quais o Café Casablanca. Do seu repertório constam, entre outros temas, “A Lenda das Algas” e o “Fado das Queixas”.

Ao longo da carreira fez parte dos elencos de várias casas de fados, como o Café Latino, o Marialvas, Adega Mesquita, Tipóia e Adega Machado e a Parreirinha de Alfama, de Argentina Santos.

Além do Brasil, onde regressaria no início da década de 1950 a fadista atuou em Espanha e em Áfica, ainda antes das independências, em territórios como o do então Congo Belga, nos países que se encontravam então sob administração britânica e em Angola e Moçambique.

Celeste Rodrigues e Nathalie estreiam-se na Gala Carlos Zel

Em 1953 casou-se com o ator Varela Silva e, em 1957, tornou-se proprietária do restaurante típico A Viela, ao qual renunciará quatro anos mais tarde. Ainda em finais da década de 1950 foi das primeiras fadistas a atuar na televisão, ainda no período experimental da RTP, no teatro da Feira Popular, e “a primeira a enfrentar as câmaras, quando os estúdios do Lumiar passaram da fase de experiências para as emissões regulares”, segundo o "Álbum da Canção”, de maio de 1967.

Em 2005, o encenador Ricardo Pais, então diretor do Teatro Nacional São João, no Porto, convidou a fadista a participar no espetáculo "Cabelo Branco é Saudade", ao lado de Argentina Santos, Alcindo de Carvalho (1932-2010) e Ricardo Ribeiro, e com o qual fez uma digressão europeia.

Em 2007 editou o álbum “Fado Celeste”, no qual gravou fados tradicionais e inéditos com letras de autores contemporâneos, como Helder Moutinho, José Luís Gordo e Tiago Torres da Silva.

Nesse ano de 2007 foi homenageada pela Associação Portuguesa dos Amigos do Fado (APAF), no Museu do Fado, num reconhecimento da “voz bonita, capacidade interpretativa e regularidade de uma carreira”, segundo declarações de Julieta Estrela de Castro, presidente da APAF à agência Lusa.

Em 2010, estreou o documentário sobre a sua vida, “Fado Celeste”, realizado pelo seu neto Diogo Varela Silva, e recebeu a Medalha de Prata da Cidade de Lisboa, no cinema S. Jorge. Em 2015, pelos seus 70 anos de carreira, a secção Heart Beat do Festival DocLisboa, abriu com uma remontagem do documentário, intitulado, apenas, “Celeste”.

Em 2010, Celeste Rodrigues foi uma das convidadas especiais do álbum de Tim, vocalista dos Xutos & Pontapés. "O Amor (Sem Se Saber Bem Porquê)" e "Esta Lisboa" foram dois dos temas cantados pela fadista com o músico.

Em 2012 o Presidente da República Aníbal Cavaco Silva condecorou-a com a Ordem do Infante D. Henrique, grau de comendador.

A fadista cantava, regularmente, em casas de fado, designadamente no Café Luso e na Mesa de Frades, em Lisboa.