Foi perante um forte clima de segurança que os norte-americanos terminaram a digressão europeia Nos Amis. Mas mais do que um espetáculo musical, o concerto foi a celebração do rock enquanto catalisador de esperança e superação do medo.

Já sabíamos que a banda estava assombrada pelo que aconteceu no Bataclan, na capital francesa, em novembro passado. É um facto, e será infelizmente um rótulo que acompanhará a banda para todo o sempre. E é precisamente esse acontecimento que leva a que exista um cuidado redobrado na segurança policial à entrada do Coliseu dos Recreios, para que este tema seja posto à porta e que lá dentro seja para dançar, cantar, tudo o que é normal num concerto.

Num recinto longe de lotado, começa a ecoar, precisamente às 22:06, "Magic", dos Pilot, tema que acompanha a entrada de Jesse Hughes e companhia. O líder a distribuir beijos por todas as mulheres, a pentear o seu bigode bem ao estilo redneck, mete os óculos de sol e vamos a isto. É hora de começar. "I Only Want You" dá o mote para uma hora de meia de mais do que entretenimento, uma missa de rock 'n' roll.

Eagles of Death Metal

Depois o que segue é uma provação de que a música é um agregador de povo, de culturas, no fundo, de confraternização. É um eletrizante Hughes que explora todo o Coliseu, sempre a mudar de guitarra, sempre a contar histórias, relacionadas com fadas que dão guitarristas “meio portugueses”, efeitos secundários da cocaína ou simplesmente para falar das tentativas de charme, prelúdio para temas como "Oh Girl" ou "I Love You All The Time" (que também serve quase de hino para os amigos de Paris).

De "Zipper Down", guardam-se outros temas, outros tributos a outras bandas. "Save A Prayer", dos Duran Duran, dos temas mais exaltados no concerto e porventura o mais conhecido do álbum, literalmente de “abanar o capacete”, quase se torna uma oração para os fiéis do estilo. Ou então "Complexity", dos Boots Electric, tocado no início do concerto, que lhe dá outro encanto. Encanto esse que também é dado pelo guitarrista Dave Catening, cujo talento nos riffs é proporcional ao tamanho da barba à ZZ Top.

Da parte do público há aceitação, comunhão, sintonia. Depois de "I Love You All The Time", que serviu para primeira despedida, veio o encore. A pedido do público, os norte-americanos fizeram a vontade e tocaram "Wannabe In L.A.". Jesse Hughes, no entanto, esclarece: “Mas quero que saibam que o que quero é estar aqui convosco”.

A eletricidade do palco para a plateia viveu-se também com temas como "Moonage Daydream", tributo singelo a Bowie. Já na recta final, com "I Want You So Hard (boy’s bad news)", tivemos o vocalista a percorrer o Coliseu até aos camarotes honorários, ou então até às laterais para dar um último acenar aos presentes. Contas feitas, não restam dúvidas: o rock 'n' roll venceu.