Durante a visita de imprensa à exposição “Dançando com a Minha Câmara", a mais importante exposição dedicada a Dayanita Singh até à data, e que abrange a totalidade da obra da fotógrafa ao longo de quatro décadas, a artista explicou aos jornalistas que, através da apresentação especial, onde fixa as fotografias em estruturas de madeira tipo biombos e livros em formato de fole de acordeão, ela consegue levar a sua arte a qualquer lado.

“Quero muito encontrar novas formas para apresentar as minhas fotografias, porque eu não gostava de forma com as minhas fotografias eram apresentadas nas galerias e museus, que era da mesma forma que as pinturas. Penso que a fotografia precisa da sua própria arquitetura e por isso tentei encontrar diferentes arquiteturas para expor as fotografias e para as difundir”, explicou aos jornalistas Dayanita Singh, 62 anos, apreciadora de arquitetura e em especial do trabalho do arquiteto português Álvaro Siza e pela forma como ele trabalha a luz.

"Dançando com a Minha Câmara" apresenta cerca de 200 fotografias a preto e branco de Dayanita Singh, vencedora do Prémio Hasselblad em 2022, e é um testemunho da “originalidade” sobre a forma que define o seu trabalho, e onde se destaca também a visão singular da artista em relação a temas como o “arquivo, o desaparecimento, a música, a dança, a arquitetura, o género e a amizade”, lê-se na nota de imprensa entregue hoje aos jornalistas.

“Eu quero ter liberdade, como artista, de mostrar o meu trabalho na sua casa, no parque, num comboio, num avião, enfim, onde quer que seja que eu goste. E quero também que possa comprar um livro meu onde estejam as minhas fotografias”, explicou, referindo que o livro com imagens exibidas em forma de fole de acordeão é uma forma de democratizar, levando a arte dos museus para casa.

Questionada sobre se considerava que a abordagem da sua exposição era revolucionária, Dayanita assume que acredita estar a promover uma espécie de revolução ao querer levar a arte para casa das pessoas a um preço simpático.

“Eu quero ser capaz de comprar o meu próprio trabalho, eu quero que os meus amigos consigam ter o meu trabalho e eu quero que as livrarias se transformem num museu (…), eu quero mudar a economia no mundo da arte”, acrescentou.

“Dançando com a minha Câmara” é uma exposição organizada pela Fundação de Serralves — Museu de Arte Contemporânea de Serralves em colaboração com Gropius Bau, Museu Villa Stuck, Munique o MUDAM – Musée d´Art Moderne Grand-Duc Jean, comissariada por Stephanie Rosenthal, que teve o apoio das curadoras Inês Grosso e Filipa Loureiro.

A par da inauguração da exposição de Dayanita Singh vai também ser inaugurada esta sexta-feira, em Serralves, a exposição “Calor”, de André Romão (Lisboa, 1984), vencedor do Prémio EDP em 2007 e um dos artistas portugueses mais relevantes da geração nascida nos anos 1980.

Questionado sobre a exposição “Calor” criada especialmente para Serralves, André Romão destacou duas narrativas que se podem ler em paralelo.

"Há uma narrativa que tem a ver com uma série de esculturas que falam de corpos híbridos, que são horizontais e que misturam vários elementos humanos naturais", e uma outra narrativa que é apresentada através de uma série de cartazes sobre doação de sangue proveniente de diferentes países e em que o "sangue é usado como metáfora da vitalidade", explicou o artista.

Inês Grosso, uma das curadoras responsáveis pelas duas exposições, referiu que tanto Dayanita Singh como André Romão "têm formação em design gráfico e um interesse comum que são os livros e a literatura”.

No que diz respeito à exposição da Dayanita, Inês Grosso indica que acaba por ser uma homenagem à arquitetura e à fotografia.

É uma exposição que foi organizada por museus – Museu dos Ficheiros (2012), Museu do Acaso (2013), Museu das Malas de Viagem (2015) e Museu das Pequenas Senhoras (1961) ou Museu do Desprendimento (2016).

Sobre André Romão, Inês Grosso defende que o artista "dá vida aos sonhos" nas suas exposições.

"Nós entramos nas exposições e somos completamente levados para outro mundo, para um outro universo”, descreve, referindo que esta mostra aborda várias temáticas - corpo normativo, discriminação, exclusão - a partir das esculturas e que foi idealizada especificamente para Serralves.

Inês Grosso salienta também que “Calor” estabelece um diálogo com a arquitetura do espaço, em que os palcos grandes “são quase um rebatimento dos tetos vazados de Siza".

A exposição “Calor” vai estar patente em Serralves até dia 2 de junho de 2024.

A retrospetiva de Dayanita Singh, "Dançando com a minha Câmara”, fica em Serralves até 5 de maio do próximo ano.