Na exposição “Saudade/Portugal”, patente na galeria do World of Wine (WOW), na zona histórica de Vila Nova de Gaia, distrito do Porto, até dia 31 de outubro, o visitante “não vai ver fotos de pessoas em guerra, mas vai ver imagens de um povo que vive em submissão”, lê-se na declaração escrita que Neal Slavin fez para a exposição “Saudade/Portugal”.

“Não há imagens de militares, mas sim de divisão de classes e de obediência forçada de enorme magnitude. Mesmo uma imagem de um soldado obediente transparece submissão na sua pose e solidão na sua atitude”, declarou Neal Slavin, com 81 anos de idade e que marcou presença na inauguração da sua exposição fotográfica e no lançamento da longa-metragem documental “Saudade: A love letter to Portugal”.

O norte-americano Neal Slavin chegou a Portugal com 27 anos, em 1968, como bolseiro Fulbright para fotografar ruínas arqueológicas em Conímbriga.

No entanto, Slavin, filho de emigrantes judeus oriundos da Rússia, não conseguiu deixar de reparar no “pesadelo extremo da ditadura de Salazar” em que vivia o povo português.

Apesar de fotografar cidadãos ser "contra a vontade do Governo, e nalguns casos ilegal”, Neal Slavin não resistiu a captar os portugueses fosse em Coimbra, no Portugal dos Pequenitos, no Santuário de Fátima, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, ou nos areais da Praia da Nazaré, onde fotografou as rugas de uma peixeira nazarena que “pareciam um mapa”.

Em 2016, quando o fotógrafo norte-americano regressou a Portugal, Neal Slavin revisitou o país para “tirar uma série de fotografias para comparar e contrastar com o que encontrou na sua primeira visita”.

“Enquanto em 1968 a saudade era triste e sem esperança, a saúde de 2016-2019 estava cheia de alegria e de nostalgia, a alegria da melancolia. Difícil de entender? Espero que as minhas fotos lhe transmitam a alegria de ver e ao mesmo tempo celebrem a alegria da alma – a alma portuguesa”, declarou Neal Slavin, revelando que para ele sempre houve uma “relação tangencial entre o catolicismo português e a saudade portuguesa”.

A exposição do artista apresenta 100 fotografias que partem da sua paixão por Portugal, refletida no livro que editou em 1971, “Portugal”, e na longa-metragem documental que ultimou, em Lisboa, “Saudade: A love letter to Portugal”, com a colaboração de figuras portuguesas como Carlos do Carmo, Mariza ou Nuno Gama.

Neal Slavin já dirigiu William H. Macy, Laura Dern, Meat Loaf e David Paymer no cinema e fotografou celebridades do mundo do cinema e da música como Steven Spielberg, Harrison Ford, Barbra Streisand e Phil Collins.

O artista já expôs em espaços como o Museu Metropolitano de Arte, o Museu de Arte Moderna, em Nova Iorque, ou o Centro Georges Pompidou, em Paris, estando a partir de hoje no WOW com a exposição “Saudade/Portugal”, um retrato da transformação de Portugal nos últimos 48 anos.