2015 tem sido um ano de sonho para os Holy Nothing. Do Porto para os principais palcos nacionais, tudo tem sido repentino na carreira de Pedro Rodrigues, Nelson Silva, Samuel Gonçalves e Bruno Albuquerque. Agora ainda há mais motivos para os ver com o álbum Hypertext acabado de sair e com a tour de apresentação do disco que terá paragem no próximo Vodafone Mexefest, no próximo dia 28 de novembro, na sala Montepio do Cinema São Jorge, em Lisboa. Para já, fica aqui a entrevista para conhecer um pouco melhor a banda que anda a mexer com o Porto e arredores.

Holy Nothing

Li numa entrevista que vocês iniciaram este projecto à distância, por estarem a viver em países diferentes. Como é que tudo aconteceu? Já tinham intenção de formar uma banda?

Inicialmente não havia qualquer intenção. Juntámo-nos, por mero acaso, numa conversa, no Porto, e percebemos que todos tínhamos vontade de experimentar novas formas de compor, mais ligadas à música eletrónica, e de testar umas máquinas velhas que tínhamos por casa. Contudo, isso só começou a acontecer passado um ano, em que estávamos todos a viver em países diferentes (o Samuel estava no Chile, o Pedro na Holanda e o Nelson em Portugal). Criámos uma pasta Dropbox e começámos a partilhar entre nós algumas gravações soltas, sem qualquer tipo de objetivo. Já no final de 2012, encontrámo-nos novamente no Porto e percebemos que tínhamos uma biblioteca gigante de material para trabalhar... a DropBox estava cheia! Então levámos todas as experiências que tínhamos feito à distância para a sala de ensaio e começámos a trabalhar finalmente em conjunto.

O caminho que fazem é notório que pode ser levado para uma dimensão mais experimental. É um dos vossos modus operandi?

Compomos de forma completamente aleatória, com máquinas e com instrumentos que nem sempre conhecemos bem. Tudo o que fazemos é muito apoiado numa espécie de tentativa e erro. Portanto, é natural que esse caráter experimental da nossa forma de compor tenha reflexo no resultado final. E isso é o que maior gozo nos dá, ou seja, usar os nossos ensaios como momentos de exploração, sem grande rumo e sem modelos pré-definidos.

O vosso som é pouco comum em Portugal. Mas tem intrigado muita gente, como aconteceu no Paredes de Coura ou no Jameson Urban Routes. Como é que tem sido o feedback das pessoas até agora ao álbum e aos vossos concertos?

O melhor feedback que podemos receber é a reação do público, sobretudo durante o concerto. Essa é a reação mais sincera que podemos ter. E quanto a isso não podíamos estar mais satisfeitos. As apresentações ao vivo do Hypertext têm resultado muito bem, acima do que esperávamos.

Também a parte visual é muito trabalhada. São apologistas de que também a música é para se ver?

Somos apologistas de criar ambiências diferentes com a nossa música, e a vertente gráfica serve para isso mesmo, para reforçar essas ambiências. O que pretendemos fazer, sobretudo ao vivo, é utilizar as projeções de vídeo sincronizadas com a música para transportar as pessoas para outro lugar. Esse trabalho tem vindo a ser desenvolvido pelo Bruno Albuquerque e pelo João Pessegueiro com o apoio do Rui Monteiro na vertente de light design.

Qual foi o(s) artista(s) que mais vos inspiraram neste projecto que é Holy Nothing?

Esta pergunta vai tendo uma resposta diferente a cada momento... e nunca gera consenso! É sempre difícil para nós falar em alguns nomes quando ouvimos coisas tão díspares. Ultimamente temos ouvido muita música brasileira e africana dos anos setenta e os últimos álbuns de Floating Points, Aphex Twin e Clark. Bem, isto foi a playlist da última semana. A da próxima pode ser completamente oposta.

 O que é este Hypertext para vocês?

É a tradução mais fiel do nosso processo criativo – um texto, uma unidade, com múltiplas influências ou múltiplos hiperlinks. Acaba por ser a síntese de muitas horas que passamos juntos na sala de ensaios.

Sentem que a música elecrónica está a tomar de assalto – no bom sentido – a música portuguesa?

Há cada vez mais projetos a nascer por cá dentro deste espectro muito amplo que designamos como “música electrónica”. É sinal que cada vez mais pessoas querem experimentar sonoridades diferentes e é também uma resposta a um público que até há muito pouco tempo estava “órfão” em Portugal. A música portuguesa está num momento ótimo, cheia de projetos inspiradores. Acredito que daqui a uns anos vamos olhar para trás e ver 2015 como um ano muito intenso e muito rico a nível musical.

Corre nas internets, e não só, que tudo é melhor no Porto. Conseguem fundamentar esta tese com três motivos?

Fácil. As três melhores coisas do mundo são um exclusivo do Porto:

  1. Casa da Música
  2. Rivoli
  3. Francesinha (com ovo e batata, sempre)