A história da banda começou, como tantas outras, na escola. Miguel Pereira, guitarrista, e Matias Ferreira, baterista, conhecem-se "desde o quinto ano" e sempre tocaram juntos. Mais tarde, no secundário, cruzaram-se com Miguel Azevedo, que trocou a guitarra pelo baixo e se juntou ao núcleo criativo que viria a dar origem à banda. A entrada de Mafalda Rodrigues aconteceu de forma espontânea: "Encontrei-me com a Mafalda na Trindade e disse-lhe 'tu cantas bem, junta-te'. E pronto, foi assim", recorda Miguel Pereira.

Assim se formou a banda, sem grandes planos — apenas a vontade de tocar. Mas rapidamente perceberam que isto era mais do que um passatempo. O clique aconteceu no FAUPfest, em 2023, quando os membros dos Baleia Baleia Baleia, também ligados à editora independente Saliva Diva, elogiaram o concerto. "Ficámos: 'Oi? Se calhar isto aqui é uma coisa fixe'", lembra Miguel Azevedo. A partir daí, o interesse foi crescendo, com convites e mais concertos a surgirem de forma orgânica.

O nome Marquise, apesar de soar enigmático, tem origem numa piada interna: "Era junto ao Marquês [do Porto] que nos encontrávamos para tocar, então achei apropriado associar isso a uma marquise", explica Mafalda, a vocalista da banda. E, claro, o facto de todos terem nomes começados por M foi uma feliz coincidência — ou, como dizem, "obra do inconsciente".

Apesar de todos estarem a estudar — e em áreas diferentes —, o equilíbrio entre a vida académica e a carreira musical tem sido possível graças a uma comunicação constante e ajustamentos mútuos. "Acho que conseguimos arranjar tempo para o que é preciso, mesmo que tenhamos de sacrificar alguns momentos sociais", admite Azevedo. "Organização e comunicação", acrescenta.

Depois de um EP homónimo lançado em 2023, "Ela Caiu" marca uma clara evolução na sonoridade da banda. "O som é mais maduro, o que é normal… crescemos muito nestes dois anos", reflete Miguel Pereira, "o álbum teve um processo mais lento e cuidado. Tivemos tempo para testar sonoridades e trabalhar com o João Brandão nos estúdios da Arda." Houve espaço para experimentar, trocar amplificadores, escolher tarolas, deixar as músicas crescerem com o tempo — e com os concertos.

Os singles "Passado" e "Fauno" funcionam como ponto de transição. "A 'Passado' tem um pé num lado e o outro noutro", diz Mafalda, explicando que esta escolha serviu mais como ponte entre projetos do que como representação total do álbum. "A 'Fauno', sim, já é uma afirmação de que isto vai ser diferente."

O disco nasceu de forma orgânica, sem um conceito definido, mas com uma coerência construída através da colaboração. "Cada música tem uma identidade própria, mas a sequência final do álbum faz sentido", explica Azevedo. As ideias surgem de qualquer um dos membros e são desenvolvidas sempre em conjunto, nos ensaios. "Compor é sempre na sala de ensaio, os quatro juntos", reforça Matias.

As letras, essas, são todas da autoria de Mafalda, que, além de dar voz à banda, imprime uma sensibilidade muito própria à escrita. Um dos exemplos mais curiosos do processo criativo surgiu com a faixa "Nuvem", inicialmente descartada, mas depois recuperada por insistência de Azevedo. "Adorava a linha de baixo e insistiu em mantê-la. Com o João Brandão, fizemos um "pitch down" e a música ganhou uma atmosfera completamente nova", conta Miguel Pereira. A introdução da canção contém até uma gravação de voz feita por Mafalda num avião — uma "tentativa falhada" de gravar as vozes em pleno voo, mas que acabou por dar um toque único à faixa.

Ao vivo, os Marquise são energia pura. "É alto, acelerado, e tem muita energia", resume Azevedo. Os concertos de apresentação do novo disco — no Porto e em Lisboa — mostraram que o público está atento. "Lisboa surpreendeu-me muito. Não sabia o que esperar, e ouvir o público a cantar comigo foi especial", confessa Mafalda.

Quanto ao futuro, os planos são simples: tocar o máximo possível. "Depois a composição há de surgir naturalmente. Somos amigos antes de sermos só banda, por isso vamos continuar a equilibrar tudo", conclui Azevedo.

A banda atua hoje, dia 16, no Palco Árvore do FAUPfest, nos jardins da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, pelas 20h45, e os bilhetes podem ser adquiridos aqui. No dia 7 de junho, os Marquise integram o cartaz do FNAC Fest e sobem ao Palco Novos Talentos, num evento de entrada livre, que terá lugar nos Jardins da Torre de Belém.