La Différence foi fundada em 1976, por Joaquim Vital, com a escritora belga Colette Lambrichs, o filósofo Marcel Paquet, também belga, e o escritor e historiador de arte franco-americano Patrick Waldberg, e tinha um catálogo de 2000 títulos, incluindo mais de uma centena de obras de autores portugueses, nomeadamente de Fernando Pessoa, Eça de Queiroz, Fernão Mendes Pinto, Vitorino Nemésio, Sophia de Mello Breyner Andresen, Maria Judite de Carvalho e Urbano Tavares Rodrigues.

“Somos obrigados a parar, ainda não sei o que vai acontecer ao fundo da editora, mas deverá ser vendido”, indicou à agência Lusa a fundadora Colette Lambrichs, sublinhando que foram os “problemas financeiros” que ditaram a liquidação judicial, sete anos após a morte de Joaquim Vital, em Lisboa, em 2010.

Colette Lambrichs, a sobrevivente do grupo fundador, afirmou ainda que a editora decidiu publicar autores portugueses devido à constatação de Joaquim Vital da “lacuna que existia em França, relativamente à literatura portuguesa”.

“Joaquim Vital era português, conhecia muito bem a literatura do seu país e muito rapidamente percebeu que era uma das últimas literaturas europeias pouco conhecidas em França. Então, fizemos um trabalho para divulgar a literatura portuguesa em França e ele próprio traduziu obras de Fernando Pessoa, Vasco Graça Moura e Sophia de Mello Breyner”, indicou.

O lançamento previsto para a 'rentrée' literária de setembro, em França, de uma tradução de "O Livro do Desassossego", de Bernardo Soares/Fernando Pessoa, por Marie-Hélène Piwnik (“Livre(s) de l’Inquiétude”) já não se vai realizar.

“O programa de publicações para a 'rentrée' não poderá ser cumprido. É escusado precisar que estamos todos muito magoados por esta decisão que vai impedir, nomeadamente, o lançamento da nova tradução de 'Livro do Desassossego', de Fernando Pessoa, na magnífica tradução de Marie-Hélène Piwnik”, escreveu Colette Lambrichs numa mensagem de correio eletrónico, enviada aos autores, tradutores e parceiros da editora, a 26 de junho.

Na mensagem de despedida, Colette Lambrichs verificava que as éditions La Différence “talvez” fizessem parte “do mundo antigo” e que "um ano de campanha eleitoral" foi "fatal" para a editora, a quem “não é possível esperar para pagar salários, despesas, rendas, etc”.

A par de autores portugueses como Mário de Sá-Carneiro, Vergílio Ferreira e Eugénio de Andrade, ao longo de cerca de 40 anos de atividade, La Différence publicou igualmente autores como Malcolm Lowry, Victor Segalen, Gilles Deleuze, Philippe Sollers, Michel Houellebecq e Francis Bacon, Henry James, Holderlin e clássicos como Homero, Píndaro ou Virgílio.