Hugo Ferreira, que acolheu a comitiva de programadores que visitou Leiria esta semana para ouvir os talentos locais e descobrir a dinâmica cultural da cidade, não tem dúvidas: o que viram Ian Noble, da companhia Metropolitan Entertainment, de Nova Iorque, Mehmet Dede, consultor de arte do Drom, de Manhattan, Jill Sternheimer, responsável pela programação do Lincoln Center, também de Nova Iorque, ou Judy Tsang, diretora do Stern Grove Festival, de São Francisco, entre outros, "deixou uma marca".

"É sempre muito imprevisível o que sai ou não destas coisas. Mas se me perguntarem se vão aparecer concertos efetivos para pessoas da Omnichord, eu digo: garantidamente que sim. Muito poucas vezes saí de ‘showcases festivals’, no estrangeiro, com tanta certeza".

A primeira edição do “RHI - Revolution_Hope_Imagination”, um “grande evento montra" para programadores estrangeiros conhecerem a cultura portuguesa, promovido pelo Arte Institute, fundado em Nova Iorque pela pela curadora Ana Ventura, tem vindo a decorrer em 12 cidades portuguesas, desde sábado passado, promovendo encontros entre artistas, empresários e programadores.

Com início no sábado passado, em Lisboa, o RHI passou por Alcobaça, Caldas da Rainha, Évora, Faro, Funchal, Guimarães, Loulé, Óbidos, Torres Vedras, Vidigueira, tendo reunido um dos maiores números de curadores e programadores culturais na cidade de Leiria, de acordo com o programa previamente divulgado.

First Breath After Coma, Solar Corona e Lonz Dale's Fantasy no circuito Super Nova

A comitiva de convidados da RHI Iniciative visitou o "cluster" cultural de Leiria na Reixida, Cortes, onde ouviu Surma e Lince ao vivo e conheceu First Breath After Coma e Whales em vídeo.

Além disso, espantaram-se com o ecossistema da associação cultural Serra, onde, com aqueles e outros músicos, convivem pintores, 'designers' de produto, 'designers' de moda, produtores de vídeo e som, entre outros.

Lá, na periferia de Leiria, num antigo armazém reconvertido, "viram um modelo comunitário de partilha e ação e assistiram a um momento criativo e artístico como nunca tinham visto na vida", assegura o responsável da Omnichord Records.

O contacto com os convidados da RHI, que ainda partilharam conhecimento numa conversa sobre internacionalização, reforçou a ideia de que "temos algo especial aqui, sem pensarmos se é melhor ou pior. O ser diferente é extremamente estimulante".

A RHI Iniciative "superou todas as nossas expectativas: eles pediram o favor de saber quais os próximos passos dos nossos artistas e de tudo o que se está a fazer em Leiria. É uma página histórica, garantidamente", sublinha o responsável da editora, antecipando o que pode vir a acontecer a partir daqui.

"Quando estas pessoas falarem com outros agentes, por exemplo, da [revista] Pitchfork, e disserem 'não imaginas a cena que vi em Leiria', esse efeito de contágio será muito mais eficaz do que 30 mil 'emails' que andarmos a enviar".

Hugo Ferreira elogia ainda a RHI Iniciative, do Arte Institute, dirigido pela portuguesa Ana Ventura Miranda a partir de Nova Iorque, pelos efeitos que pode ter para a cultura nacional.

"A Ana [Ventura] foi inacreditável a juntar esta gente toda e a trabalhar quase sozinha. Passaram-se legislaturas inteiras que não fizeram tanto [pela cultura] como ela fez numa semana".

A iniciativa RHI termina este fim de semana, no Funchal, com o concerto inaugural da temporada da Orquestra Clássica da Madeira, depois de uma apresentação do Plano Nacional das Artes, promovido pelo Governo português, que será feita hoje, a convidados.