"Eco-Visionários: Arte, Arquitetura após o Antropoceno" é o título da mostra que resulta de um projeto de colaboração do MAAT com vários museus europeus, centrado no pós-Antropoceno - designação recente de um novo período geológico definido pelo impacto das ações humanas.

Esta exposição, em Lisboa, apresenta contributos de artistas, arquitetos e ‘designers’, portugueses e estrangeiros, e consiste na primeira e mais abrangente das quatro mostras que vão decorrer em paralelo em Portugal, Espanha, Suíça e Suécia.

A exposição está dividida em quatro secções: “Desastre”, “Coexistência”, “Extinção” e “Adaptação”.

A primeira apresenta, através de vídeos e fotografias, um retrato dramático da situação atual do planeta e apela a uma consciência ecológica urgente.

Em “Coexistência”, os artistas “alimentam visões de que podemos resolver o problema” e “oferecem ideias de mitigação”, que permitem a relação entre espécies, respeitando a coexistência geográfica, explicou o curador da mostra e diretor do museu, Pedro Gadanho, numa apresentação aos jornalistas.

Um vídeo documenta processos em que a selva da Amazónia foi a Tribunal, porque foi constituída como entidade jurídica, outro revela o trabalho feito com populações indígenas, à volta dos rios, sobre o impacto que as barragens têm nas comunidades locais.

Uma outra peça é um projeto de arquitetura – um projeto real, que está em curso -, de uma casa desenhada para o Texas de forma a compensar a toxicidade da água e preservar espécies que começam a ficar ameaçadas.

A secção sobre “Extinção” é a mais polémica e nela se expõem as consequências dramáticas do aquecimento global nos ecossistemas, sugerindo que algumas espécies vão ser extintas - como é o caso do ser humano, que não está biologicamente preparado para a subida das temperaturas - tal como aconteceu há 65 mil milhões de anos com a extinção dos dinossauros e de outras espécies.

“Segundo os cientistas, corremos o risco de entrar na sexta extinção de massas, e o planeta sobreviverá com outra forma de vida e existência”, acrescentou Pedro Gadanho.

Uma das peças mais emblemáticas desta secção é uma experiência audiovisual, que convida o visitante a entrar numa sala e ouvir a gravação de um texto documental – escrito por um biólogo marinho - sobre as perspetivas futuras de evolução da espécie humana - enquanto assiste à transformação de um espelho – que reflete as pessoas sentadas nessa sala – num aquário de medusas, uma das espécies que mais vai crescer com as alterações climáticas.

“É um trabalho mais documental, com pessoas reais. Ouve-se os especialistas a falar sobre medusas. Esses animais continuarão a existir, enquanto nós desaparecemos”, explicou Pedro Gadanho.

Na última secção, “Adaptação”, procura-se encontrar soluções, partindo de várias correntes de pensamento que existem quanto às alterações climáticas: as que defendem que se o Homem conseguiu construir tudo o que construiu, também se conseguirá adaptar; e as outras que defendem que é preciso desacelerar.

Parte-se para esta sala com a seguinte questão: “se fomos nós a conceber a próxima extinção em massa, seremos capazes de criar uma solução para a mesma?”.

“Considerando os desastres que nos rodeiam e a extinção das espécies, pensamos: o que podemos fazer?”, sendo este o pressuposto para as peças artísticas da última parte da mostra, explicou a outra curadora da exposição, Mariana Pestana.

Uma das peças que compõem esta secção está a ser desenvolvida há vários anos e consiste numa máquina de biogás que permite transformar resíduos humanos em energia para sustentar uma pessoa, permitindo-lhe cozinhar, tomar duche e outras tarefas dependentes de energia.

“Acreditam que estas unidades podem ser máquinas do futuro, a ser usadas nas casas, mas isto leva-nos a pensar que temos que mudar radicalmente a forma de viver”, disse Mariana Pestana.

A exposição "Eco-Visionários: Arte, Arquitetura após o Antropoceno" vai ficar patente no MAAT até 8 de outubro.

Foto: Ana Gomes