O som soul e R&B continua presente, mas a pop veio para ficar nesta nova faceta que a artista agora nos demonstra. Para saber um pouco mais sobre esta mudança, o SAPO Mag falou com a artista.

SAPO Mag - O teu novo disco chama-se "Back in Town". Explica-nos o que levou à escolha deste nome.

Mimicat (M): Então... acontece que eu fiz o disco todo e cheguei ao fim sem ter nome. Queria um nome que representasse bem esta fase nova e toda a transformação pela qual passei, e nada me parecia de jeito. Às tantas o meu namorado disse-me para ir ver as letras, porque se tenho lá tanta coisa, há de existir alguma que eu consiga apanhar. E foi na "Going Down" que eu fui buscar o "Back in Town", onde eu digo "Baby I'm not insane, I'm just back in town", que achei que representava exatamente aquilo que eu queria dizer. Esta expressão representava todas as alterações e o espírito com o qual eu estou a abraçar este novo álbum. Eu não estou de volta à cidade, mas estou de volta a mim mesma. Estou de volta àquilo que sou e às coisas que valorizo.

O que te fez escolher "Fire" como o teu single de mudança?

M: Antes de eu fazer a "Fire" estava numa fase negativa. Sentia que estava a mudar, mas não queria assumir isso. Tinha muitas dúvidas existenciais (risos). Tinha problemas de confiança, de auto estima, uma espiral mesmo negativa. Nada de positivo chegava à minha frente, era tudo mau! (risos) Mas quando comecei a escrever a "Fire", na parte de "I've got a fire burning deep inside", pensei que este seria mesmo o mote da minha viragem. Muitos de nós temos aquele fogo cá dentro, mas temos medo de o deixar sair cá para fora. A "Fire" foi a música que me deixou assumir esta mudança e deixar para trás todos os receios e inseguranças. É mesmo a faixa mais importante para mim neste processo todo.

Mimicat

A tua mudança é evidente neste álbum. Como foi o processo de criação e produção, tendo em conta que estavas numa batalha interior contigo mesma?

M: Foi completamente diferente. No primeiro álbum eu ainda não estava muito à vontade, e a produção teve muito o cunho do Sérgio Costa que fazia a direção musical e me ajudou a tratar das canções. Quando estás rodeada de um certo grupo de pessoas, independentemente da área profissional, ou até mesmo na tua vida pessoal, acabas por ter a influência dessas mesmas pessoas, e acho que isso foi o que aconteceu comigo. A influência do Sérgio e dos outros músicos presentes foi tão grande na produção do álbum que eu me deixei levar, embora adore o meu primeiro álbum. O primeiro disco foi feito à antiga, e este foi completamente composto em casa, posteriormente apresentado aos produtores no estúdio, e produzido totalmente em estúdio com tudo ao pormenor. Foi um trabalho de equipa e foi incrível para mim, porque aprendi bastante e este disco acabou por se tornar muito mais pessoal, embora a produção tenha sido mais pop, mas as canções e as letras são muito mais intimistas do que o anterior.

Esta tua mudança para algo mais pop não se resume às canções, mas também à imagem e aos videoclips.

M: Sim, porque eu estava presa numa personagem. Criei uma personagem, que continuo a adorar, porque adoro a forma como me apresentei, mas que teve como objetivo servir como o meu mecanismo de defesa. Quando uma pessoa se prepara para se expor às vezes cria-se um mecanismo de defesa para garantir uma distância de segurança. No entanto, fui-me apercebendo que essa distância não estava a deixar as pessoas verem quem eu era. Eu ia para as entrevistas e tinha de estar assim, com uma certa e determinada postura, e chegava a casa para as ver na televisão quando o meu namorado, com quem estou junta há quase 11 anos, me dizia que o que via não era eu, e eu ficava chocada por não saber como podia estar a passar uma imagem tão errada. Esta foi a minha grande luta, libertar-me da personagem e começar a perceber que, se eu me assumir como sou as pessoas não vão precisar da personagem para nada, porque ou gostam e vão continuar a gostar, ou se não gostarem é porque também não gostavam assim tanto de início, pelo que também não faz muita falta. (risos) Sempre usei ténis na minha vida toda, porque sempre fui super prática e ténis é aquilo que eu mais gosto de usar, mas eu não podia usar ténis. Nunca. Sendo que eu não podia por alguém me dizer que não, mas sim porque eu própria achava que aquela personagem não podia usar. Isto era uma luta interna, e agora já posso usar ténis à vontade. (risos)

Sentiste mais pressão quanto ao teu álbum anterior, por estares a fazer passar uma imagem que não eras realmente tu, ou foi mais difícil agora demonstrar às pessoas quem tu realmente és?

M: Sabes que eu no início criei aquela personagem e pronto. Estava muito feliz com o que tinha, até perceber que não estava (risos), mas não senti pressão nenhuma no primeiro disco. Com este novo disco, a pressão que senti foi a pressão que impus a mim mesma. Preocupava-me saber o que achariam as pessoas que já me seguiam. Será que vão aceitar bem a mudança? Vão reconhecer? Vão continuar comigo? Esse era o meu grande receio, mas tenho tido muita sorte porque a reação das pessoas tem sido ótima. Fiquei surpreendida pela positiva, porque mesmo em concertos as pessoas dizem que gostam ainda mais agora, até porque a questão ao vivo era outro ponto importante. As pessoas viam a Mimicat na televisão e ouviam na rádio, e depois iam aos concertos dizer-me que tinham uma ideia completamente diferente de mim. Agora dizem-me que a música mudou, mas que eu não, e eu percebi que as pessoas me conhecem realmente, e que eu estou a fazer as coisas da forma correta.

Mimicat

Quais são os planos para o futuro?

M: Agora estou mesmo focada na promoção do álbum e nos concertos que tenho agendados. No entanto, enquanto compositora eu estou sempre a criar músicas, e já tenho um monte delas que eu quero fazer, mas nem quero pensar já nisso porque este processo foi cansativo e bastante exigente. Preciso de uma pausa de um ano antes de começar a trabalhar em algo novo, mas quando começar a trabalhar já não devo parar mais (risos).

Se não pudesses ser a Mimicat (junção de "Mimi" como alcunha de família, e "Cat" de piada da vida privada), o que serias?

M: Sabes que eu tentei imensas combinações (risos). Tentei de tudo. Marycat, e mais um monte de hipóteses, mas nenhuma funcionava bem, mas se eu não pudesse ser a Mimicat eu seria... já sei! Uma vez eu criei um alter ego muito engraçado e chamava-se Vicky, que era a minha personagem mais badass, numa mistura da Beyoncé com a Catherine Zeta-Jones no musical "Chicago". Pronto. Se conseguires imaginar assim uma mistura destas, é isso. (risos)

Sabemos que és um catlady assumida, mas se pudesses ser o teu gato por um dia, o que farias? (risos)

M: Se eu pudesse ser o meu gato por um dia eu acho que saltava da janela (risos). Nós não temos varanda, e o meu gato, coitadinho, passa a vida à janela para apanhar um bocadinho de ar. Eu penso "coitadinho, ele gostava tanto de ir para junto dos outros gatos", porque existem imensos gatos aqui na rua.

A imagem é algo muito importante para ti. Diz-nos quais as tuas quatro escolhas para uma maquilhagem do dia a dia.

M: Isso é o meu habitual! Corretor, máscara, baton e blush. Esta foi fácil (risos).

Qual seria o teu dueto de sonho?

M: Acho que, de momento, seria o John Legend. Acho que o último álbum dele tinha várias músicas que eu gostava imenso, mas acho que escolhia a "Used to Love You".

Se escolher um dueto é difícil, preciso agora que me digas qual a tua música favorita de todos os tempos.

M: Isso é muito complicado. Tenho tantas... mas continuo a achar que aquela que mais me marcou foi uma que nem é muito conhecida, a "Bedda at Home" da Jill Scott, que eu ouvi na Antena 3 e que despertou algo em mim que me fez interessar mais pelo R&B e soul. A letra fala muito do respeito da pessoa com quem se está. Pode vir o príncipe mais lindo de sempre para me provocar, mas sei que aquilo que tenho em casa é melhor.