"As circunstâncias da morte de Bruno Candé obrigam-nos a pensar sobre o muito que ainda nos cumpre fazer na luta contra a violência e o quanto a cultura, na sua dimensão conciliadora e de aproximação, pode contribuir para isso", afirma a ministra hoje, em comunicado, cinco dias depois da morte do ator.

Bruno Candé Marques, 39 anos, morreu no sábado após ter sido baleado, várias vezes, em plena Avenida de Moscavide, concelho de Loures.

O suspeito do homicídio, de 76 anos, foi detido no local e aguarda julgamento em prisão preventiva.

No sábado, em comunicado, a família afirmou que Bruno Candé Marques "foi alvejado à queima-roupa, com quatro tiros" e que "o seu assassino já o havia ameaçado de morte três dias antes, proferindo vários insultos racistas".

Parlamento: Audição de Graça Fonseca na Comissão de Cultura e Comunicação

A família considerou que "fica evidente o caráter premeditado e racista deste crime" e exigiu que "a justiça seja feita de forma célere e rigorosa".

O ator Bruno Candé nasceu em Lisboa, em 1980. Iniciou o seu percurso no grupo de teatro da Casa Pia, ainda na adolescência, tendo posteriormente frequentado o curso de formação teatral do Chapitô, onde chegou em 1995 e participou em vários espetáculos, sob direção do encenador Bruno Schiappa.

Trabalhava desde 2011 com a Casa Conveniente, de Mónica Calle, onde participou em “A Missão - Recordações de uma Revolução”, de Heiner Müller, distinguido com o prémio de Melhor Espetáculo do Ano, em 2012, pela Sociedade Portuguesa de Autores.

Fez parte do elenco de produções como “Macbeth”, “O Livro de Job”, “Rifar o Meu Coração”, “A Sagração da Primavera”, “Noites Brancas”, dirigidas por Mónica Calle, “Drive In”, de Mónica Garnel, e “Atlas” de João Borralho e Ana Galante.

Entrou no filme "Ivone Kane", de Margarida Cardoso. Esteve também no elenco de telenovelas como "Única Mulher", da TVI.

O ator preparava o novo projeto da Casa Conveniente, “O Escuro Que Te Ilumina”, espetáculo que tem por base a história da sua vida e a sua recuperação, após um acidente sofrido em 2017. Segundo a companhia, o projeto será posto em cena, "com uma nova força", em 2021.

Para sexta-feira e sábado estão anunciadas concentrações antirracistas e antifascistas em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Beja, homenageando o ator de origem guineense.

Para domingo, foi convocada uma "contramanifestação" de direita, em Lisboa, pelo presidente demissionário do Chega, André Ventura, que considerou que o "caso trágico do ator assassinado nada tem a ver com racismo".