O artista nascido em Portugal e de nacionalidade brasileira, morreu numa unidade hospitalar da cidade brasileira, onde estava internado, segundo a mesma fonte.

Desde 1953 radicado no Brasil, onde vivia, em São Paulo, Fernando Lemos pertence à terceira geração de modernistas portugueses e o seu trabalho foi inicialmente inspirado pelo movimento surrealista.

Deixa uma vasta obra de pintura, desenho, poesia, e também na área do design, gráfico e industrial.

Este ano, Fernando Lemos teve em Portugal, pela primeira vez, uma exposição totalmente dedicada à sua produção no design gráfico - uma disciplina que ocupou grande parte da sua vida criativa -, com um total de 230 obras, organizada pelo Museu do Design e da Moda (MUDE), na Cordoaria Nacional, em Lisboa.

A mostra “Fernando Lemos Designer” mostrou, de acordo com a diretora do MUDE na altura da inauguração, a faceta criadora “ainda pouco conhecida do público”.

A exposição esteve patente entre 6 de junho e 6 de outubro e incluiu a exibição dos documentários "Fernando Lemos - Como não é retrato?" (2017), de Jorge Silva Melo, e "Retratação" (2019), filme realizado por Miguel Gonçalves Mendes e Victor Rocha.

Por ocasião de “Fernando Lemos. Designer” foi publicado o catálogo "Fernando Lemos Designer", uma coedição com a Imprensa Nacional, da série Ph, que abre com uma fotografia inédita do crítico José-Augusto França, na Galeria das Quimeras, na Notre Dame, a quem o artista dedica o livro.

Numa visita de imprensa à exposição, em junho, Fernando Lemos afirmou que “muitas vezes o design é tratado como desenho por equívoco”.

“O desenho industrial não é desenho. Desenho é aquilo que a gente faz do que já conhece. O design é o resultado de uma ideia, de um sonho, que tem de ser construído, passando por etapas de investigação e de várias avaliações, portanto não é desenho", explicou na altura.

Em simultâneo, com a mostra na Cordoaria Nacional, decorreram exposições associadas da obra do artista na Galeria Ratton e na Galeria 111, em Lisboa.

Referência da cultura portuguesa e brasileira, Fernando Lemos era sobretudo reconhecido em Portugal pela fotografia de inspiração surrealista, realizada entre 1949 e 1952, e, no Brasil, pelas suas pinturas e desenhos abstratos.

No início da carreira, na década de 1950, foi "à procura dos malditos", os autores impedidos de se exprimirem na época da ditadura em Portugal, e fotografou-os, contou em junho, durante uma visita de imprensa à mostra “Fernando Lemos. Designer”.

Depois de ter comprado uma "máquina primitiva, uma Flexaret checoslovaca", começou "uma fúria a fotografar tudo", e vários nomes destacados das artes e letras portuguesas, da época, passaram pela sua objetiva: Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge de Sena, Adolfo Casaes Monteiro, Arpad Szenes, Maria Helena Vieira da Silva e Mário Cesariny, entre outros.

"A minha primeira exposição foi criar uma galeria de gente oprimida e proibida de se exprimir", recordou em junho Fernando Lemos, sobre um tempo que o levou a deixar Portugal.

Em 1994, o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, acolheu uma exposição retrospetiva dedicada à obra fotográfica.

Representado nos principais museus de Arte Moderna e Contemporânea em Portugal e no Brasil, e em muitas coleções privadas, o seu trabalho em fotografia, pintura e desenho tem sido objeto de mostras individuais e integrado em inúmeras exposições coletivas.

Das suas mãos nasceram logótipos, livros (e uma editora de literatura infantil – editora Giroflé), muitas ilustrações, cartazes, azulejos, murais, tapeçarias, estampas para tecidos, pavilhões expositivos.

Fernando Lemos foi também professor na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, na Universidade de S. Paulo, e presidente da primeira Associação Brasileira de Design Industrial.

Em "Fernando Lemos - Como, Não é Retrato?" (2017), de Jorge Silva Melo, afirmou: "Fui estudante, serralheiro, marceneiro, estofador, impressor de litografia, desenhador, publicitário, professor, pintor, fotógrafo, tocador de gaita, emigrante, exilado, diretor de museu, assessor de ministros, pesquisador, jornalista, poeta, júri de concursos, conselheiro de pinacotecas, comissário de eventos internacionais, designer de feiras industriais, cenógrafo, pai de filhos, bolseiro, e tenho duas pátrias -- uma que me fez e outra que ajudo a fazer. Como se vê, sou mais um português à procura de coisa melhor".

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