João Ferreira-Rosa era proprietário do Palácio de Pintéus, nos arredores de Loures, que fora propriedade da poetisa Maria Amália Vaz de Carvalho e que serviu de cenário a vários programas de fado, transmitidos pela RTP, em que participaram os fadistas Alfredo Marceneiro, Maria do Rosário Bettencourt, Teresa Silva Carvalho e João Braga, e os músicos Paquito, José Pracana, José Fontes Rocha, entre outros.
João Ferreira-Rosa, natural de Lisboa, afirmava-se monárquico e foi autor, entre outros, do poema “Triste sorte”, que gravou no Fado Cravo, de Marceneiro.
Figura assídua das galas anuais Carlos Zel, no Casino Estoril, do seu repertório constam, entre outros, os fados “Os Saltimbancos”, “Acabou o Arraial”, “Fragata” e “Portugal Verde e Encarnado”.
João Ferreira-Rosa iniciou carreira em 1961, quando atuou pela primeira vez na rádio, e gravou o primeiro disco, em que incluiu “Embuçado”, que se tornou o seu “cartão-de-visita”.
O fadista gravou este poema de Gabriel de Oliveira, na melodia do Fado Tradição, da fadista cantadeira Alcídia Rodrigues, mas ao longo de mais de 50 anos de carreira Ferreira-Rosa gravou alguns fados com letras de sua autoria, como “Triste Sorte”, “Os Lugares por onde andámos”, “Fado das Mágoas”, “Acabou o Arraial”, “Mansarda”, “Pedi a Deus” ou “Portugal Verde e Encarnado”.
João Ferreira-Rosa fez toda a sua carreira cantando apenas fado tradicional, como realçou hoje à agência Lusa o estudioso de fado Luís de Castro, autor de uma biografia de Fernando Farinha.
"Nunca fez concessões, cantou sempre o fado tradicional, permanecendo fiel a uma escola que dignificou", disse.
Valéria Mendez, ex-professora do Conservatório do Funchal, e que colaborou na edição discográfica "Amália em Itália", saída em abril último, em declarações à Lusa afirmou: "Morreu uma luz vibrante do fado. Um mestre. Um fadista por excelência e de excelência".
A Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa defini-o como de “temperamento irreverente”, que gostava de expressar as suas opiniões publicamente, nomeadamente a favor do regime monárquico, que se “afirmou como personagem singular no meio do fado de Lisboa” e com um “extremamente diminuto” percurso discográfico.
O seu último disco gravado em vida, no seu Palácio de Pintéus, nos arredores de Loures, foi um duplo CD, “Ontem, Hoje”, editado em 1996.
Ferreira-Rosa afirmou à Lusa, numa entrevista, que não gostava de gravar em estúdio, justificando os diminutos discos.
"Podia ter gravado mais até, mas aquela frieza dos estúdios apavoram-me", disse Ferreira-Rosa, que se referia ao fado como "algo profundamente sério, que teve em Amália Rodrigues a sua mais elevada expressão", e que gostava de cultivar "num espírito de tertúlia", como aconteceu muitas vezes no seu Palácio de Pintéus, ou na residência que tinha em Alcochete, no distrito de Setúbal.
Além de dois CD antológicos, “Essencial-João Ferreira-Rosa” (2004) e “O Melhor de João Ferreira-Rosa” (2008), editou quatro outros álbuns, incluindo um de atuações no extinto Wonder Bar, no Casino Estoril, e cerca de dez singles e/ou EP.
O fadista estreou-se no programa “Nova Onda”, da Emissora Nacional, mas a primeira vez que cantou foi aos 14 anos, em Santarém, no Teatro Rosa Damasceno, numa festa da Escola de Regentes Agrícolas de Santarém.
Em 1965, João Ferreira Rosa adquiriu um espaço em Lisboa, no Beco dos Curtumes, no bairro de Alfama, que se tornou A Taverna do Embuçado, que inaugurou em 1966, e por onde passaram nomes como Amália Rodrigues, Maria Teresa de Noronha, Beatriz da Conceição, Artur Batalha, entre muitos outros, e que se tornou “uma sala de visitas de Lisboa”. Após 20 anos à frente desta casa de fados, Ferreira-Rosa entregou a sua gestão à fadista Teresa Siqueira.
Em novembro de 2012 a Câmara Municipal de Lisboa entregou-lhe a Medalha de Mérito Municipal, grau Ouro.
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