
A peça é composta por quatro personagens: Solange, uma mãe solteira, a protagonista da peça, o pai da criança, o avô da criança e o encenador que se travam de razões acerca das suas idiossincrasias.
Um tema “realista” que interessou a Carlos J. Pessoa, autor do texto e da encenação, e que pretendia que “tivesse uma adesão à realidade e com o qual as pessoas se pudessem identificar, permitindo desenvolver outras ideias que queria plasmar no espetáculo”, disse o criador à agência Lusa.
A ideia de uma mãe solteira e dos problemas com que esta se confronta para criar o filho, perante um pai da criança que é uma “figura completamente ausente e alienada nas suas fantasias românticas”, foram pontos de partida para Carlos J. Pessoa.
O pai de Solange, “aprisionado no passado, numa espécie de megalomania salvífica e que acaba também por não ter uma adesão à realidade e não ajuda à filha”, é outra das personagens da peça na qual Carlos J. Pessoa quis fazer uma “reflexão sobre o egoísmo”, observou.
Uma meditação sobre o que perpassa nas sociedades atuais que tem a ver com “o hedonismo, a busca de prazer e a satisfação pessoal”, entre outras coisas, e, ao mesmo tempo, com a “dificuldade de se partir para uma ideia de sacrifício”.
Daí que a peça acabe por resultar “numa tragédia”, indicou o autor e encenador.
No caso de “Mundo Desconhecido”, a tragédia ou o “drama lutuoso em que a peça se tornou” ocorre devido à “ausência de laços”, porque Solange “é uma mulher só”, frisou o autor.
Por isso, a peça passa-se num cenário marcado por bolas de água concentradas em gel que muitas vezes remetem para a imagem de um embrião e simbolizam o egoísmo e o mundo no qual uma pessoa se fecha.
Porque, para Carlos J. Pessoa, “a questão do egoísmo foi e continua a ser um problema”.
Para o encenador, o egoísmo é um tema cada vez mais marcante: “Dificilmente conseguimos sair do nosso conforto pessoal e estarmos preparados para o sacrifício”, argumentou, justificando que isso é ainda mais visível agora com a guerra na Ucrânia.
“O que estamos a propor em cena é um debate em torno da história da Solange para debatermos o egoísmo e o princípio mais difícil de cumprir da Revolução Francesa, que é a fraternidade”, concluiu.
Com interpretação de Ana Palma, Carlos J. Pessoa, Herlandson Duarte, João Duarte e Susana Blazer, a peça tem cenografia e desenho de luz de Herlandson Duarte e Carlos J Pessoa, música e vídeo de Daniel Cervantes e figurinos de Ana Palma,“Mundo Desconhecido” está em cena até 3 de abril, com sessões à quinta-feira, sexta e sábado, às 19h30, e, ao domingo, às 16h30.
Comentários