“É uma ópera, obra de arte total, que tem canto, tem teatro, tem vídeo, tem dança, tem o texto de Kafka, portanto, tem muitas portas de entrada possíveis, que conjuga todas estas disciplinas artísticas, numa espécie de afunilamento do pensamento para irmos a um sítio muito específico, que é o lugar da opressão”, explicou o maestro Martim Sousa Tavares, responsável pela direção do espetáculo.

Segundo o encenador de “Na Colónia Penal", Miguel Loureiro, esta ópera de câmara ‘clássica-moderna’ é uma “descida aos infernos” que decorre “numa ilha tropical” e que serve de colónia penal para um regime mais autoritário, que está a sofrer uma mudança.

Apesar de o escritor Frank Kafka nunca especificar o lugar nem o ano em que acontece a ação de “Na Colónia Penal”, Martim Sousa Tavares revela que, enquanto português, transpôs essa colónia penal para o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, que servia para encarcerar presos políticos, sociais e, mais tarde, combatentes dos movimentos de libertação, durante a ditadura do Estado Novo.

“Sabemos que estamos num espaço ultramarino de alguma potência europeia, onde nesta Colónia Penal há um mecanismo de execução dos piores prisioneiros, que é um mecanismo extremamente cruel. E, portanto, toda a ópera se desenvolve à volta desta história do dualismo de um visitante que vai encontrar este sistema e tem a oportunidade de acabar com ele ou não”, explica, ressalvando “não há moral da história”, porque Kafka nunca revela o que está certo ou errado.

Martim Sousa Tavares explica que a música é minimal, na linha do compositor, e "anda muito à volta de repetições" e de "desenvolvimento de uma mesma ideia", construindo assim um efeito de “claustrofobia acústica”.

“Uma claustrofobia acústica, porque a música anda sempre nesta engrenagem. (…) Portanto, sentimos quase que a música é o reflexo da história e vice-versa”.

“Encontrarmos aqui a natureza humana e percebermos que esta arte serve para ativar o nosso mecanismo de cidadania individual e coletiva” é uma perspetiva que Martim Sousa Tavares sublinhou, acreditando que no dia em que um espectador encontrar uma situação de injustiça fora do teatro, talvez saiba como reagir.

Miguel Loureiro recordou que a ópera é conhecida por conjugar as disciplinas todas possíveis, desde as performativas, passando pela encenação, representação e canto, até à parte tecnológica do vídeo, iluminação, sonoplastia, entre outras, e que, por isso, “Na Colónia Penal” foi um “trabalho desafiador”.

“Na Colónia Penal” ter em palco dois cantores, três atores, cinco músicos no fosso da orquestra e o maestro.

O espetáculo, todavia, conta com um total de cerca de 40 pessoas, entre os quais figurinos, responsáveis pela cenografia, vídeo, legendas, encenação e movimento, cujo responsável é Miguel Pereira.

“Na Colónia Penal” estreia-se na quarta-feira, dia 25 de outubro, às 21h00, no Coliseu do Porto.