"O avô tem uma borracha na cabeça" é narrado por um rapaz que um dia descobre que o avô começou a esquecer-se de coisas, enganava-se nas ruas, confundia nomes das pessoas.

Inconformado com a ideia de que o problema não tinha cura, o rapaz decidiu "remendar as memórias do avô", escrevendo e desenhando tudo o que sabia sobre ele e se lembrava do que lhe contou. "O avô tem uma borracha na cabeça? Pois nós somos um lápis!", exclamou.

O livro, vocacionado para a infância, é ilustrado com colagens da autora brasileira Paula Delecave a partir de anúncios da época vitoriana, fotografias de anónimos de Lisboa, de familiares da ilustradora e do Arquivo Municipal de Lisboa.

No final, Rui Zink explica que este livro se inspira num familiar a quem foi diagnosticado Alzheimer.

"As pessoas, quando sofrem, viram poetas involuntários. Por isso também é corrente a bonita expressão: 'Ele já não é ele'. (...) Ele pode já não ser ele, mas eu ainda sou eu. (...) Esta pessoa a quem quero muito já nem sempre se lembra de mim, mas eu ainda me lembro dela", escreveu o autor.

Rui Zink, 58 anos, que se estreou em 1987 com a novela "Hotel Lusitano", é autor de contos, romance, novela gráfica, ensaio e livros para crianças, nomeadamente "O bebé que não gostava de televisão" e "O bebé que fez uma birra", ambos com Manuel João Ramos.

Doutorado em Estudos Portugueses e um dos primeiros autores a ensinar escrita criativa, Rui Zink publicou em 2019 o romance "Manual do bom fascista".

Paula Delecave, natural do Rio de Janeiro e a residir em Lisboa, ilustrou o livro "Que aventura ser Matilde", da Associação Pais em Rede, com texto de Rui Zink, e "Quando João ficou sem palavras", da autora brasileira Ana Helena Rotta Soares.

Desenvolveu ainda, em parceria com António Jorge Gonçalves, os espetáculos "Frutoscópio" e "O convidador de Pirilampos", a partir do livro homónimo do escritor angolano Ondjaki.

"O avô tem uma borracha na cabeça" é uma edição da Porto Editora.