No camarim de Duquesa, já que este e a sua banda se haviam apoderado do seu, conduzimos a entrevista a PZ - Paulo Zé Pimenta. Foram 5 ou 6 minutos, não muito mais que isso, mas serão o suficiente para que fiquemos mais conhecedor e inevitavelmente mais interessados pelo projecto deste homem.
Como é que a partir do quarto do miúdo de 16 começou a surgir esta sonoridade tão própria?
PZ: Como é que foi? Bem, aos 16 ainda não tinha uma sonoridade muito própria. Acho que foi apenas aí que descobri que podia descobrir como fazer música sozinho... Com samplers, com o computador. Na altura - e estamos a falar de 96 -, foi quando começaram a surgir essas tendências.
Fui muito influenciado pelo techno alemão, pela ninja tune, pela warp e comecei a fazer coisas mais na onda do Hip Hop, juntando à música várias tendências. Depois, houve um momento em que passei a cantar por cima: primeiro, em inglês (Foz Girl, a minha primeira música, de quando tinha 18 anos; e ela está disponível no soundcloud para quem quiser ouvir). Após isto, fui estudar para os Estados Unidos, para a universidade. Estudar Som e Imagem, o equivalente a Som e Imagem em Portugal e quando voltei, em 2002, é que comecei a fazer o Anticorpos. Voltei de lá, não sabia o que fazer...
Sim, voltaste e tinhas de começar por algum lado
Sim, ao que a minha família disse: "faz o que quiseres". Entrei numa fase um bocado depressiva depois daquele "faz o que quiseres" e daí o nome do disco, que se refere um pouco à saída desse lugar - onde acho que toda a gente acaba por ficar quando sai da universidade e não sabe o que há de fazer. Então, voltei a Portugal, já me era um país um bocado estranho... Mas fiquei no meu quarto a desenvolver músicas e lancei o Anticorpos em 2005. Mas não tinha mais que isto: não dava concertos, apenas fiquei contente com o álbum. Foi aí que começou a surgir a Meifumado, a editora que tenho com o meu irmão, com o Sérgio Freitas e com o Duarte Araújo. Tínhamos outra banda, que era a Zany Dislexic Band, onde eu tocava baixo e guitarra - era uma banda assim de improviso meio psicadélica. Surgiu, em 2008, Paco Hunter, outro projeto que tive com o meu irmão... Gostava de gravar outra vez, mas de momento estou mais focado em PZ. E, finalmente, em 2012, surgiu o role sofisticado de músicas provenientes de beats antigos, músicas que fui fazendo sozinho como PZ e foi nesse disco que surgiram músicas como "Croquetes", por exemplo, ou "Autarquias", "Passeio" ou "O que me vale és tu". E aí decidi começar a dar concertos - as coisas desenrolaram-se rapidamente. Acho que o vídeo de "Croquetes" levou a que se espalhassem croquetes pelos internautas e depois ainda fiz uma colaboração numa música com o dB, a "Cara de Chewbacca", que acho que foi outra música que se alastrou - e ainda mais gente. E temos agora, o Mensagens da Nave Mãe, que é o último álbum. Saiu agora em abril.
Eu estive a explorar o teu soundcloud e verifiquei que, e de encontro ao que me disseste agora, tinhas vários alter-egos. Fala-nos um bocadinho sobre isso.
Tenho... Alguns estão mais parados que outros, apesar de eu continuar a tentar investir neles. Tenho um que é o Pplectro, que é puramente electrónico, não há voz e é quase o meu brinquedo. Faço tudo no Fruity Loops, mesmo com os plug-ins próprios e este programa tem uma forma de produzir música que faz com que eu queira fazer aquele tipo de coisa. Os patterns, o ser muito TR808 style... Isto já é uma coisa mais técnica mas, como disse, com aquele programa dá-me para fazer aquele género de música e eu continuo a fazê-las. Tenho para aí mais 30 ou 40 músicas para editar, apesar de estar um pouco parado. Mas foi o meu primeiro disco editado, Running Themes, por Pplectro (2004). Nunca dei concertos, nunca fui DJ a partir daqui, nada.
Depois, tenho a Zany Dislexic Band com o Zé Nando, o Sérgio e o Duarte, que são, basicamente, os fundadores da Meifumado. Já demos alguns concertos - é uma coisa muito íntima entre nós... Sessões de improviso que podem durar meia hora e também temos tudo no Spotify, em 12 discos que lançámos ao longo de 2011, um por cada mês. E tenho também participação no projecto de MC Jihad, um alter-ego de João Roquete, que também fazia parte da Meifumado. Um projecto desenvolvido por ele, a falar sobre a guerra e o terrorismo, de uma maneira muito imparcial, sem tomar partidos. Canto em inglês e português nesse projecto, por exemplo. E participo noutros álbuns da Meifumado. Também realizo videoclips para o pessoal da Meifumado e mesmo para mim próprio. Enfim, procuro não estar parado.
Procuramos todos, não é?
Sim, é por aí! Mesmo com o PZ, que - felizmente - está a correr bem, também gosto de, às vezes, sair desse mundo e fazer coisas diferentes. Estou a acabar agora um videoclip para os Mind da Gap, que vai sair brevemente. E é fixe porque através da Meifumado, dos videoclips, de PZ, vou conhecendo a indústria musical: várias pessoas interessantes e que, realmente, tenho de dar graças a Deus por estar a conhecer tanta gente com qualidade deste mundo musical.
As tuas letras, apesar de parecerem algo aleatórias, têm um confluência lógica. Pretendes que a tua música seja algum tipo de hino de mudança?
Eu pretendo fazer música diferente, isso sim. Reflete um bocado a minha vida, e lá está: o facto de cantar em português sobre uma base electrónica, as diferentes formas como uso a voz - às vezes, é Hip Hop, outras não é -, mas tendo sempre dar o elemento de diferença. Para mim, fazer música não é para ser igual ou repetida - "ad nauseam" (que enjoa) -, é tentar explorar um género diferente.
Pegando, então, nas várias facetas de PZ, és com alguma certeza um dos nomes de destaque do Palco Antena 3. O que é que achas que acaba por diferenciar-te dos outros?
Acho que há muito boas bandas aqui a atuar....
Atenção que não estou a retirar qualquer mérito, seja a ti ou aos outros! (risos)
Sim, claro! Mas cada um tem a sua maneira de estar, tem a sua música. Quer dizer, eu vou estar de pijama (mais risos) com dois músicos que agora me acompanham. Antes, fazia live-act. Trazia os beats e cantava. Agora, já tento transpor as músicas para o formato ao vivo através dos sintetizadores, guitarra e baixo. Estamos a dar-nos muito bem e estamos a conhecer-nos cada vez melhor e os concertos têm resultado muito bem.
PZ, que, mais tarde nesse dia, actuaria no Palco Antena 3, teve uma audiência considerável que veio para ouvir esta personalidade emergente da música nacional. E não me enganei e nem ele me enganou, tocou mesmo de pijama.
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