Jay-Z, Kendrick Lamar e Bruno Mars seguem à frente na corrida da 60ª edição dos Grammy Awards, cuja cerimónia de entrega decorre este domingo, 28 de janeiro, no Madison Square Garden, em Nova Iorque.

Para lá dos prémios, as atenções estão centradas na iniciativa de apoio ao movimento Time's Up, nas homenagens a Tina Turner, Queen, Neil Diamond, Hal Blaine, Emmylou Harris, Louis Jordan e The Meters e na pouca presença feminina entre os nomeados. A música latina e o hip-hop também estarão em destaque.

Hip-Hop

Muitas vezes criticada pela sua falta de contacto com a realidade, os Grammys podem recuperar a legitimidade ao consagrar o hip hop, género dominante nos Estados Unidos e que segue na frete das nomeações.

No total, estão três discos de hip-hop na corrida ao título de  "Álbum do ano", o maior prémio da indústria da música norte-americana.

Pela primeira vez na história nenhum homem branco foi nomeado na categoria, na qual "4:44" de Jay-Z concorre contra os discos de Kendrick Lamar, Childish Gambino, Bruno Mars, que ressuscitou o funk, e de Lorde, a única mulher nomeada.

Jay-Z
Jay-Z

A liderar está Jay-Z com oito nomeações. O rapper já recebeu 21 prémios Grammy, mas nunca nas principais categorias.

A emergência do hip-hop como uma força maior nos Grammys chega depois de anos de críticas sobre o pouco reconhecimento da indústria do entretenimento aos artistas afro-americanos. No passado, só dois álbuns dominados pelo rap venceram na categoria de álbum do ano.

O aclamado álbum de Kendrick Lamar - "To Pimp a Butterfly" - que se tornou no hino oficial do movimento "Black Lives Matter", que surgiu após episódios de violência policial contra afro-americanos, perdeu há dois anos para "1989", de Taylor Swift. E, no ano passado, Adele expressou a sua vergonha por vencer a categoria de álbum do ano contra o experimental "Lemonade", de Beyoncé, carregado de narrativas.

Lamar foi indicado em sete categorias por seu álbum "DAMN.", enquanto Swift foi nomeada em apenas duas. O seu álbum "Reputation", que está entre os mais ouvidos, tarde para entrar na corrida.

Entre outro rappers, Childish Gambino - nome artístico do humorista Donald Glover que junta funk e R&B psicodélico com seu hip-hop - pode ganhar na categoria de álbum do ano e de gravação do ano, com um total de cinco nomeações.

E as mulheres?

A homenagem dos Grammys ao hip-hop, um género historicamente masculino, é dominada por homens. Apenas duas mulheres rappers, Rapsody e Cardi B, estão na corrida aos prémios nas categorias de rap, mas não nas quatro principais.

E nem todos estão de acordo. Lorde disse à revista Billboard que Cardi B - a nova-iorquina Belcalis Almanzar - merecia uma nomeação nas principais categorias porque "definiu 2017" com a sua canção "Bodak Yellow".

A ausência de mulheres nos Grammys é, em parte, culpa do calendário. Duas cantoras, Adele e Taylor Swift, venceram os dois últimos prémios de "Álbum do ano". Mas canções de Swift, Beyoncé e outras artistas foram lançadas fora do período de elegibilidade para a edição de 2018.

Rosas brancas

Se os vestidos e trajes negros inundaram o tapete vermelho na 75ª edição dos Globos de Ouro, na gala dos Grammys o branco vai destacar-se. Na noite de domingo é esperado que todas as celebridades usem uma rosa branca em forma de solidariedade com o movimento Times' Up - fundo de defesa legal que procura ajudar mulheres com baixos salários a protegerem-se das consequências que podem surgir após a denúncia de abusos sexuais.

A ideia do protesto simbólico partiu de Meg Harkins da editora Roc Nation e por Karen Rait da editora Interscope, Geffen e A&M e deve-se ao facto de o branco ter sido usado pelas sufragistas que defenderam o direito ao voto no início do século XX e que lutaram pela igualdade de género.

Halsey, Rita Ora, Kelly Clarkson e Cyndi Laupe são algumas das artistas que apoiam a iniciativa.

Homenagens

Tina Turner, Queen, Neil Diamond, Hal Blaine, Emmylou Harris, Louis Jordan e The Meters vão ser homenageados com o prémio Lifetime Achievement Award na edição deste ano dos Grammys.

Tina Turner
Tina Turner

O galardão atribuído pela academia reconhece as carreiras mais influentes. Para Neil Portnow, presidente e CEO da Recording Academy, os homenageados deste ano "criaram ou contribuíram para algumas das gravações mais distintivas da história da música".

Em 2017, a lendária cantora norte-americana Nina Simone, os pioneiros do rock Velvet Underground e o grande nome do funk Sly Stone receberam um Grammy de carreira.

"Despacito"

"Despacito" chega à 60ª edição dos Grammys, que se irá realizar em Nova Iorque, como o maior vencedor da última edição dos Grammys Latinos, onde venceu o gramofone dourado nas categorias de Gravação do Ano, Canção do Ano, Melhor Fusão/Interpretação Urbana e Melhor Vídeo Musical.

"Será uma noite muito importante, não só para mim e para os envolvidos nesta música, mas para a música latina, porque naquele grande palco, haverá um tema cantado em espanhol", disse Luis Fonsi à AFP.

O porto-riquenho frisou que o mais importante era estar nomeado para os Grammys em categorias onde normalmente as canções em espanhol não são destacadas, incluindo Álbum do Ano, Música do Ano e Melhor Dupla ou Grupo. "Não acontece há vários anos. Desde 'La Bamba' (em 1988). E uma música em espanhol nunca venceu, então não sei se podemos mudar a história, mas digo com toda a honestidade que, o que quer que aconteça, o que conseguimos é algo que entrará para a história", considerou.

O músico reconhece assim que Ricky Martin também tenha marcado a música latina ao cantar "La Copa de la Vida" nos Grammys de 1999.

Conheça os nomeados das categorias principais:

Gravação do Ano:
"Redbone" — Childish Gambino
"Despacito" — Luis Fonsi & Daddy Yankee Featuring Justin Bieber
"The Story Of O.J." — JAY-Z
"HUMBLE." — Kendrick Lamar
"24K Magic" — Bruno Mars

Álbum do Ano:
"Awaken, My Love!" — Childish Gambino
4:44 — JAY-Z
DAMN. — Kendrick Lamar
Melodrama — Lorde
24K Magic — Bruno Mars

Canção do Ano:
"Despacito" — composição de Ramón Ayala, Justin Bieber, Jason "Poo Bear" Boyd, Erika Ender, Luis Fonsi & Marty James Garton (Luis Fonsi & Daddy Yankee Featuring Justin Bieber)
"4:44" — composição de Shawn Carter & Dion Wilson(JAY-Z)
"Issues" — composição de Benny Blanco, Mikkel Storleer Eriksen, Tor Erik Hermansen, Julia Michaels & Justin Drew Tranter (Julia Michaels)
"1-800-273-8255" — composição de Alessia Caracciolo, Sir Robert Bryson Hall II, Arjun Ivatury, Khalid Robinson (Logic Featuring Alessia Cara & Khalid)
"That's What I Like" — composição de Christopher Brody Brown, James Fauntleroy, Philip Lawrence, Bruno Mars, Ray Charles McCullough II, Jeremy Reeves, Ray Romulus & Jonathan Yip (Bruno Mars)

Melhor Novo Artista:
Alessia Cara
Khalid
Lil Uzi Vert
Julia Michaels
SZA

Melhor Atuação Pop a Solo:
"Love So Soft" — Kelly Clarkson
"Praying" — Kesha
"Million Reasons" — Lady Gaga
"What About Us" — P!nk
"Shape Of You" — Ed Sheeran

Melhor Atuação Duo/Grupo Pop:
"Something Just Like This" ­— The Chainsmokers & Coldplay
"Despacito" — Luis Fonsi & Daddy Yankee Featuring Justin Bieber
"Thunder" — Imagine Dragons
"Feel It Still" — Portugal. The Man
"Stay" — Zedd & Alessia Cara

Melhor Álbum de Dança/Eletrónica:
Migration — Bonobo
3-D The Catalogue — Kraftwerk
Mura Masa — Mura Masa
A Moment Apart — Odesza
What Now — Sylvan Esso

Melhor Álbum Rock:
Emperor Of Sand - Mastodon
Hardwired...To Self-Destruct - Metallica
The Stories We Tell Ourselves - Nothing More
Villains - Queens Of The Stone Age
A Deeper Understanding - The War On Drugs

Melhor Performance Rock:
"You Want It Darker" — Leonard Cohen
"The Promise" — Chris Cornell
"Run" — Foo Fighters
"No Good" — Kaleo
"Go To War" — Nothing More

Melhor Álbum de Música Alternativa:
Everything Now - Arcade Fire
Humanz - Gorillaz
American Dream - LCD Soundsystem
Pure Comedy - Father John Misty
Sleep Well Beast - The National

Melhor Álbum de Música Urbana:
Free 6lack — 6lack
"Awaken, My Love!" — Childish Gambino
American Teen — Khalid
Ctrl — SZA
Starboy — The Weeknd

Melhor Álbum Rap:
4:44 — Jay-Z
DAMN. — Kendrick Lamar
Culture — Migos
Laila's Wisdom — Rapsody
Flower Boy — Tyler, The Creator

Melhor Álbum Country:
Cosmic Hallelujah — Kenny Chesney
Heart Break — Lady Antebellum
The Breaker — Little Big Town
Life Changes — Thomas Rhett
From A Room: Volume 1 — Chris Stapleton

Produtor no Ano, Categoria Não-Clássica:
Calvin Harris
No I.D.
Greg Kurstin
Blake Mills
The Stereotypes