Para o Sofar, o conceito é simples. No início do mês guardamos um dia para assistir a uma tarde de concertos. Não há bandas confirmadas nem sabemos onde se vai realizar. Se formos um dos felizes contemplados, na véspera sabemos o lugar do evento. Já no próprio dia, vamos lá ver o que vamos ouvir. Como premissa: ouviremos bandas emergentes no contexto nacional.
O conceito é diferente, original e divertido, já que obriga a enfiar uma multidão inteira dentro de uma sala que poderá ser a do vizinho do lado ou de um espaço de cowork. Como advertência já nos dizem que podemos trazer uma mantinha lá de casa ou uma almofada, porque geralmente se fica sentado no chão a ouvir três bandas que nos apresentam, num registo intimista, 20 minutos da sua música.
Esta primeira edição de 2017 não foi diferente. Capitão Capitão, Namari e indignu foram as surpresas reveladas no espaço Volta – Oficina Criativa, na Lx Factory.
À entrada, a fila já se estendia ao longo do andar. Imensa gente curiosa à espera. Muita gente nova, que está para descobrir o conceito do Sofar, mas também alguns repetentes que gostaram e quiseram repetir a experiência. Desta vez, à entrada, uma pessoa recebe logo uma sidra o que também faz soltar a simpatia com o pessoal. Estamos ali com o propósito de ouvir música mas também com uma sidra na mão, não é mal pensado.
Com a ponte 25 de Abril a servir de paisagem nos vidros, é no calor humano que os Capitão Capitão, desta vez num registo mais acústico, surgem no palco, montado no espaço pequenino. Por vezes, as letras mais tristes, em tons mais ou menos melancólicos, eram contrastadas por uma criança que repetia as palavras. Porque o Sofar é isto também. Jovens, adultos, bebés. Tudo é bem-vindo na festa. 20 minutos servem para quatro, cinco canções, no máximo. E é isso, os Capitão Capitão deram um cheirinho do seu álbum “32”, lançado ao ano passado. Temas como o “Sessenta e quatro”, “Grande Mentiroso” ou “Volta” para fazer pendant com o nome do espaço deram o mote para o final de tarde que era tudo menos inverno.
15 minutos de pausa como num jogo de futebol e lá vamos nós para a segunda parte. Num ritmo muito mais festivo, os Namari presentearam-nos com uma alegria com direito a sotaque mais doce.
Vinda do Brasil (acabei por não descobrir o sotaque, por isso não consigo dizer qual a cidade), Mariane Reis veio com os seus amigos tugas (Bernardo Silva, Ricardo Pereira, Sérgio Salgueiro e Vasco Machado) e deu-nos uma lição – embora rápida – que o que é preciso é dançar, sorrir e ser feliz. Nesta aliança luso-brasileira que se verificou no domingo e que ficará com direitinho a vídeo no youtube, destaca-se "preguiça", single da banda, que ficou no ouvido. Como se diz no Brasil, virou “música chiclete”.
Num dia que só teimava em melhorar, o melhor estava mesmo guardado para o fim. Vindos de Barcelos, e depois de terem tocado no Musicbox, os indignu fizeram questão de arrepiar a pele e elevar os sentimentos a outro nível com a sua música instrumental. Com "Orphelia" lançado recentemente, este grupo alternativo/pós-rock fez com que 20 minutos parecessem poucos. Tanto que o encore foi pedido e claro que realizado. Se falamos em bandas emergentes no Sofar, podemos também falar que há a certeza que ouviremos falar dos indignu muitas mais vezes ao longo deste 2017.
Chegámos ao fim da sessão com o sentimento de dever cumprido. Ouvimos boas bandas, num sítio agradável, com um ambiente supimpa. E é ao cair do pano que se deve fazer menção à organização do Sofar. Esta organização faz tudo por amor à camisola (e à música). No final, já é cliché um chapéu andar à recolha de fundos. Esta “dízima” musical serve acima de tudo para dar continuidade ao projecto, fazendo com que seja possível dar a conhecer os maiores segredos da música portuguesa nos lugares mais improváveis.
Fotos: Sofar Sounds (Salomé Reis e Bruno Figueiredo)
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