Nesta 21ª edição do Super Bock Super Rock, o melhor ficou guardado para o fim. Quando todos pensávamos que íamos ver Florence and the Machine, a organização do festival trocou-nos as voltas e brinda-nos com Florence - The Machine. Tão encantadora como a cidade sua homónima.
O concerto deste sábado fez jus ao título do novo álbum do conjunto britânico: How Big, How Blue, How Beautiful. Big, porque tornou a MEO Arena num tapete humano; Blue, porque nos levou ao céu; e Beautiful porque, como tudo o que é bonito, não será esquecido tão depressa. Daqui para a frente, nós - homens portugueses - passamos oficialmente a preferir ruivas às loiras e às morenas.
A menina Welch entrou com a pica toda, de pandeireta na mão, a pular no seu quimono branco, ao som de "What the Water Gave Me". As palavras "Be the overflow" não poderiam ter feito mais sentido naquela sala a transbordar. Quando terminou, parecia incrédula perante a euforia e a entrega do público. Pouco depois, sacudiu-nos ainda mais com "Shake it Off".
Para além de máquina, Florence Welch foi maestrina. Liderou-nos - para não dizer que fez vodu connosco - a seu bel-prazer, definindo ruídos e vazios, como se fôssemos um botão de volume. Só não a comparamos ao J.K. Simmons de Whiplash, porque foi tudo menos brutamontes. Enquanto orquestrava, irrompeu pelo corredor que dividia a plateia em dois. Depois, completou o outfit angelical com a coroa de flores que pediu por empréstimo a uma jovem em delírio. Apoderou-se ainda de uma bandeira portuguesa, que levou para o palco, antes de entoar "Cosmic Love". A MEO Arena foi um chegar a casa para Welch. Ou não é hábito de quase todos nós descalçarmo-nos quando assim é? Mas também não é de admirar.
Mesmo o calçado mais confortável do mundo, não teria sido capaz de acatar aqueles - arriscamo-nos a dizer - quilómetros de correria de uma ponta à outra do palco, intercalados por dezenas de piruetas e alguns momentos de dança contemporânea. Enfim, aquela interminável energia.
Sem Calvin Harris, "Sweet Nothing" foi um 'Florence and the Machine feat. Público português'. Do novo álbum, assinalamos "Ship to Wreck", "Delilah" e, claro, "What Kind of Man Loves Like This", que também pode ser chamada de "What Kind of Woman Sings Like This". Perspicaz, o público tinha um dedo que adivinhou.
Numa das raras oportunidades para recuperar o fôlego, começou a gritar-se pelo seu nome. Coincidência ou não, ela respondeu com "Say My Name" e regressou ao meio da multidão para ir abraçar uma fã. Que estava um calor dos diabos já nós tínhamos percebido desde o primeiro instante em que entrámos ali. Mas, por constrangimento, não teríamos a ousadia de tirar o último resto de pano do corpo. Até que (!), em "Dog Days Are Over", Welch pediu expressamente que o fizéssemos.
Como líder que sempre foi, fez questão de dar o exemplo. Sim, nós vimos Florence Welch de soutien (livrem-se de achar que foi por isso que achámos isto um concertaço). Não temos como prová-lo, mas o intervalo de confiança é considerável: todas as bocas se abriram para cantar este tema. Não gosto da palavra clímax, mas tenho de a usar para descrever este final de concerto. Bom, pelo menos - a nosso ver - deveria ter sido o final. Porque não se justificava um encore depois disto. Florence Welch, will you marry us?
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