O texto do escritor português, criado em 1922 e publicado no primeiro número da revista Contemporânea, mantém-se atual, sublinha Leopold von Verschuer. O produtor e ator, acrescenta que “Pessoa era inimigo das duas posições extremas: o capitalismo radical e a radical ação política contra ele. E basta olharmos à nossa volta - esta é uma peça para a Europa real.”
No palco são duas as personagens, o banqueiro e o amigo. “O banqueiro explica ao seu convidado espantado, porque é que ele, um anarquista convicto, foi forçado a virar-se para o dinheiro. Neste diálogo tenso, Ulrich Marx e Leopold von Verschuer revelam a conexão entre anarquia e capitalismo”, pode ler-se na página do Theaterdiscounter de Berlim.
“Todos os meus trabalhos como ator, tradutor e produtor estiveram ligados a estruturas de linguagem complexas. Essa dificuldade parece-me música e levá-la ao palco, na minha boca, é como dançar. Sinto-me um bailarino das palavras. Experimento, nesta peça, a fantástica complexidade de Pessoa, frase por frase”, revela Verschuer à agência Lusa, reconhecendo o desafio de levar “O Banqueiro Anarquista”, em alemão, ao teatro.
O produtor e ator desta peça frisa ainda assim que a estrutura é, à partida, fácil: “Um homem fala muito, outro homem ouve. Parece tão simples. O verdadeiro rapto é como fazer disso uma representação dramática. Por isso, o meu desafio pessoal é o mesmo que o de um membro do público, isto é, ouvir durante 85 minutos. Talvez seja disso que o mundo atual precisa mais do que nunca, ser capaz de ouvir.”
Ultich Marx, que desempenha o papel de banqueiro, interpretou o “Anarchistischer Bankier” pela primeira vez há 30 anos. Leopold von Verschuer conheceu-o em 1995, altura em que ambos planearam fazer a peça juntos.
Em 1998, Leopold von Verschuer estreou-se em Portugal com um monólogo de Álvaro García de Zúñiga, na Fundação Calouste Goulbenkian, em Lisboa.
“O Banqueiro Anarquista” ("Anarchistischer Bankier") estreia-se hoje, no Theaterdiscounter, em Berlim, com novos espetáculos na sexta-feira e no sábado.
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