“Solo – Venturas e desventuras de uma viajante ocidental” é o título da peça na qual Carolina Campanela, autora e intérprete, reflete sobre uma experiência autobiográfica por que passou no final de fevereiro de 2022, como a atriz disse à agência Lusa.

A peça, que acaba por ser ficcionada, parte da experiência vivida no final de fevereiro de 2022 quando iniciou uma viagem de pesquisa artística, permanecendo duas semanas em Galinhas, uma ilha sem turismo, no arquipélago dos Bijagós.

Na ilha, Carolina Campanela, que viajou com mais sete artistas numa iniciativa organizada, confrontou-se com a dificuldade de viver “mais ou menos, embora nunca seja exatamente igual", nas mesmas condições que os habitantes da ilha.

A dificuldade de comunicar - pois a população só fala crioulo e Bijagós - com pessoas com cultura e hábitos e tradições que não correspondem a nada do que um ocidental conheça, aumentaram as dificuldades por que a artista passou.

Da reflexão do que aí viveu surge agora esta peça inserida no ciclo “Bijagós e nós”, a decorrer até sexta-feira, às 19h30, de que faz parte a peça de Carolina Campanela, com encenação e direção artística de Pétronille de Saint Rapt.

Como sobreviver na ilha, como obter água que depois tem de ser fervida ou como se arranja comida foram obstáculos que tiveram que ultrapassar.

Em “Solo – Venturas e desventuras de uma viajante ocidental” está ainda patente um acontecimento com que os artistas se confrontaram logo que chegaram à “'tabanka', a área povoada da ilha" - "a morte de uma mulher de grande importância para a comunidade que desencadeou dez dias de cerimónias contínuas em sua honra”.

A peça reflete assim "sobre a dificuldade de ser viajante, sobre os nossos hábitos enquanto ocidentais a viajar, e sobre a dificuldade de nos adaptarmos a realidades que não são as nossas", quer culturalmente, quer “ao nível da sobrevivência, da forma como temos os nossos hábitos incrustados; da forma como tomamos banho, como comemos, a que horas comemos”, acrescentou Carolina Campanela.

O ciclo “Bijagós e nós” integra ainda um espectáculo musical, na quarta-feira, com cantos e rituais de Bijagós, a exibição da versão de trabalho de um documentário intitulado “Pescadores de Bubaque”, ambos às 21h30.

No final da terceira sessão da peça, haverá uma conversa com o público, com a equipa artística e a professora catedrática jubilada Anabela Mendes, mentora do projeto “Bijagós e nós”.

Nesta conversa também participam, no apoio à língua e à cultura bijagó, Cadija Vera Cruz, natural do arquipélago e residente em Portugal, e Moniz de Oliveira Lopes, guineense que serviu de tradutor na viagem de 2022 a Bijagós.

No espetáculo musical vão estar Sérgio das Neves (voz), Carlos Fonseca (viola), José Maria da Fonseca (guitarra portuguesa) e Carlos Heitor da Fonseca (viola de fado).

“Pescadores de Bubaque” é um documentário realizado por Pedro Florência, numa primeira viagem a Bijagós, às ilhas de Bubaque e Orango, também inserido num projeto da professora Anabela Mendes.

“Solo – Venturas e desventuras de uma viajante ocidental” tem espaço cénico de Carolina Serrão e produção da Além Mundus – Associação Cultural.