Um ‘corridinho’ de memórias e dos acontecimentos que marcaram o Algarve nos últimos 50 anos, de 1974 até 2024, é o tema do livro “50 anos de Abril no Algarve”, do jornalista Ramiro Santos.

A obra, lançada em fevereiro, no ano em que se assinalam 50 anos da Revolução de Abril, desenrola-se em ciclos cronológicos, passando pelas primeiras eleições livres até à queda do atual Governo, entre convulsões políticas, tragédias, atentados, casos policiais e outras histórias, contou à Lusa o autor.

“Com base na minha memória e no meu arquivo jornalístico pessoal achei que seria oportuno contar os acontecimentos mais marcantes deste período, reavivando memórias dos primeiros tempos do 25 de Abril”, referiu.

O ponto de partida da obra é o período entre 1974 e 1976, “os anos de brasa”, em que decorreram as primeiras eleições livres em Portugal e também um acontecimento marcante no Algarve, conhecido como o assalto ao Governo Civil de Faro.

O episódio aconteceu no dia 26 de outubro de 1975, altura em que o governador civil de Faro era Júlio Almeida Carrapato: “Cerca de duas centenas de pessoas ocuparam o Governo Civil. Podia ter tido consequências muito graves, podia ter sido sangrento, mas felizmente não foi”, recordou.

Depois deste acontecimento, promovido pela esquerda revolucionária, houve outro momento marcante na história política algarvia, mas em sentido contrário: a direita cercou a sede do PCP em Faro, mas uma barreira de proteção militar evitou que houvesse problemas.

Com um percurso de 40 anos como jornalista, a maioria dos quais na TSF, Ramiro Santos quis recuperar memórias “que se vão perdendo”, mas também traçar o retrato de um Portugal “rural, atrasado e subdesenvolvido” às gerações mais jovens.

“[O livro] Serve também para que as novas gerações não se esqueçam do que era Portugal antes da revolução: um país obscuro, analfabeto e onde tudo estava por fazer”, sublinhou.

Outros dos episódios retratados no livro é um dos mais mediáticos atentados ocorridos em Portugal: o atentado de Montechoro, que ocorreu em 10 de abril de 1983 no antigo Hotel Montechoro, em Albufeira, onde decorria o congresso da Internacional Socialista.

Issam Sartawi, médico, conselheiro de Yasser Arafat e representante da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) no congresso, foi morto a tiro no átrio do hotel, tendo o atirador abandonado o local a pé, sem ser detido, ato terrorista reivindicado pela organização extremista palestiniana de Abu Nidal.

A arma do crime foi encontrada, justamente, por Ramiro Santos, que estava a fazer a cobertura do congresso: “a polícia andava à procura [da arma] num jardim em frente ao hotel e andava por ali eu e mais alguns jornalistas. Ao levantar-me, agarrei-me a uma sebe e, por debaixo de um tronco seco, estava a pistola num pano”, relatou.

Os tempos do ‘cavaquismo’, com Cavaco Silva, e do ‘guterrismo’, com António Guterres, a queda do governo de José Sócrates após o chumbo do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) IV e a ‘geringonça’ que permitiu a António Costa formar governo em 2015 são outros dos momentos retratados no livro.

Ramiro Santos faz ainda uma passagem pelo maior desastre de avião ocorrido em Faro, em 1992, por dois casos judiciais que marcaram o Algarve: os casos Maddie e Joana, ambas desaparecidas sem deixar rasto, abordando também a guerra na Ucrânia, a pandemia de covid-19 e a ‘bazuca’ europeia.

Na obra cabem ainda testemunhos de figuras como Carlos Brito, Teresa Rita Lopes, André Jordan, falecido este mês, Margarida Tengarrinha, Joaquim Magalhães e António Ramos Rosa, entre outros.

Na parte final do livro encontra-se uma compilação dos resultados de todas as eleições legislativas até hoje, assim como dos presidentes de Câmaras do Algarve, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, do Turismo do Algarve e governadores civis.

O livro, editado pela Guerra e Paz, é apresentado no dia 24 de março em Faro e em 8 de abril em Lisboa.