Todas as cenas da primeira temporada da comédia, disponibilizada no serviço de streaming desde o início de janeiro, foram filmadas meses antes da eleição de Donald Trump, mas algumas delas adquirem agora um novo significado.

Um episódio, por exemplo, gira em torno da imigração clandestina nos Estados Unidos e da deportação de imigrantes sem documentos, uma prioridade para o novo presidente.

Durante uma discussão animada da série, os tolerantes opõem-se aos legalistas, entre eles um jovem branco conservador e uma imigrante cubana septuagenária. "Não os expulsaram para o seu país, mandaram-os para outro lugar", explica a heroína Penélope, uma mãe quarentona que está a divorciar, sobre um casal de imigrantes que é levado pelas autoridades até à fronteira mexicana, para ressaltar a complexidade da situação dos clandestinos que moram nos Estados Unidos há décadas.

"Já tínhamos terminado o guião" quando Trump fez da imigração ilegal um dos temas principais da sua campanha, "mas tocamos no assunto", explicou a americana de origem cubana Gloria Calderon Kellett, uma das guionistas e produtora de "Um Dia de Cada Vez".

Apesar de tudo, "acredito que será pertinente, mais pertinente do que poderíamos imaginar", frisa.

"Um Dia de Cada Vez"  é uma nova versão de uma famosa série americana com o mesmo nome transmitida entre 1975 e 1984. O fio condutor é uma mãe solteira com dois filhos. Mas a família branca de Indianápolis da série antiga transformou-se numa família latina de Los Angeles, com uma terceira geração representada pela avó, que chegou de Cuba quando era jovem, em 1962. A famosa atriz porto-riquenha Rita Moreno interpreta este papel.

Para Gloria Calderon Kellett, que se inspirou na sua própria história para escrever a série, era o momento de abrir o horizonte para personagens hispânicos na televisão.

"Somos sempre rotulados", lamentou Justina Machado, atriz americana de pais porto-riquenhos e avó cubana que interpreta Penélope. "A garota sexy e apaixonada, o melhor amigo engraçado ou o polícia durão. É como se não houvesse nada mais", lamenta. "O que gosto na Penélope é que ela tem múltiplas faces", acrescentou.

"Um Dia de Cada Vez" enquadra-se em uma nova tendência, mas não é pioneira. Nos últimos anos, "Jane The Virgin" também colocou em cena três gerações de hispânicos; "East Los High" mostrou adolescentes latinos de Los Angeles, e os dois protagonistas da série do Netflix "The Get Down", sobre o nascimento do hip hop, têm origens na América Latina.

Além de abordar a imigração, "Um Dia de Cada Vez" evoca também o racismo quotidiano, simbolizado pelas reflexões tortuosas de personagens brancas que mostram até que ponto os estereótipos estão enraizados na sociedade norte-americana.

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