Ao mesmo tempo, porém, isso não impede — antes parece favorecer — a intensificação da importância dramática da personagem da agora Primeira Dama, Claire Underwood. A sua ambição de ocupar o lugar de embaixadora dos EUA nas Nações Unidas não implica apenas uma reavaliação das prioridades do próprio Presidente; ao mesmo tempo, ela adquire uma especialíssima força simbólica, reforçando o seu peso político e, mais do que isso, a sua presença afetiva nas decisões (públicas e privadas) do próprio Frank.

No terceiro episódio da nova temporada (29º na contagem total), Claire surge mesmo num papel subitamente marcado por inusitadas componentes sexuais, quanto mais não seja porque um visitante ilustre da Casa Branca — nada mais nada menos que Viktor Petrov, Presidente da Rússia (interpretado pelo dinamarquês Lars Mikkelsen) — a elege como objeto de fixação do seu comportamento pouco ortodoxo. O reencontro (sexual, precisamente) de Claire e Frank ficará mesmo, por certo, como um dos momentos mais subtis na definição da sua peculiar, porventura enigmática, relação conjugal & política.

Esta valorização de Claire no interior da dinâmica interna de «House of Cards» implica um natural reforço da presença da sua intérprete, Robin Wright. Se dúvidas houvesse sobre a sua capacidade de compor uma personagem para além de qualquer cliché, a evolução de Claire é notavelmente reveladora: por um lado, vemo-la abalada pelas atribulações da trajetória que conduzem ao cargo ambicionado; por outro lado, tais atribulações funcionam também como mecanismos de reconversão da sua própria postura prática e estratégica, conjugal e política, num processo que a atriz sustenta com invulgar subtileza. Aliás, sintomaticamente, Wright volta a assumir funções de realização: dirigira o décimo episódio da segunda temporada (23º na contagem geral) e, agora, na terceira, encontramo-la a assinar o nono e o 12º capítulos (35º e 38º).

Escusado será dizer que nada disso diminuiu a presença de Kevin Spacey no papel de Frank Underwood, conferindo-lhe antes algumas facetas suplementares, como seja esse misto de vulnerabilidade emocional e fúria conquistadora que se instala a partir do momento em que as figuras do seu círculo interior lhe dão a conhecer a intenção de não apoiar a sua recandidatura.

A infinita sedução do poder — que é, afinal, um dos vetores estruturantes do par Frank/Claire — reconverte-se, assim, num jogo ainda mais sedutor, porventura também mais indecifrável, em que a personagem do fiel Doug Stamper, agora num doloroso processo de recuperação física e simbólica, continua a desempenhar um papel fulcral. A sua visão visceralmente pragmática, mas também radicalmente passional, continua a ser posta em cena com discreto rigor por esse ator “ignorado” que é Michael Kelly: ele ilustra um valor inestimável — o ator secundário (supporting role) — que não desapareceu nem da televisão nem do cinema “made in USA”.

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