A 4.ª edição do Observatório Close-Up, em Vila Nova de Famalicão, retrata o cinema como "arte privilegiada" para mostrar a História, mas também com capacidade de "aldrabar" a temporalidade, tendo o tempo como fio condutor.

Apresentada ao final desta manhã, a mostra da edição de 2019 vai decorrer entre os dias 12 e 19 de outubro, enquanto o Observatório de Cinema decorre ao longo do ano, "procurando inovar" no formato, com a História do Cinema "no cerne da programação".

Em 2019, a programação divide-se entre cinema para toda a família, com filmes como "Toy Story" e o "Rei Leão" (em versões propositadamente musicadas para esta edição, pela Orquestra de Jazz de Matosinhos e pelos Mão Morta), sessões para escolas e sessões especiais dedicadas a realizadores como Quentin Tarantino, cinema francês e oficinas, e presta ainda uma atenção especial ao novo cinema de terror, que pretende "muito mais do que fazer dar saltinhos" nas cadeiras, disse a organização.

"O cinema é uma arte privilegiada [para] retratar determinados períodos de tempo, circunscrever-se a determinado período da história (...), mas simultaneamente o tempo no cinema também é outra coisa, uma espécie de 'aldrabice do tempo', das 'elipses'. [O cinema] faz isso muito bem, através das montagens, há um tempo inerente ao próprio cinema", explicou o programador Vítor Ribeiro.

O responsável disse que o Close-up "joga com estas duas formas de lidar o tempo, e esta ideia percorre o programa todo".

Do "vasto e rico programa", Vítor Ribeiro destacou "algumas particularidades" da edição deste ano, como a " primeira" antestreia de um filme no festival, no caso "Alpha: Nos Bastidores da Corrupção", de Brillante Mendoza, ou a criação original dos Mão Morta para o filme-concerto "A Casa na Praça Trunaia", de Boris Barnet.

"Eles [Mão Morta] poderiam ter pegado na banda sonora original e ter tocado novamente, mas o que fizeram foi 70 ou 80 minutos de música nova, composta para esta ocasião", destacou.

Outra "sessão especial" será a da exibição do mais recente filme de Quentin Tarantino, "Era uma Vez em Hollywood": "Não está aqui para encher salas, mas porque Tarantino tem uma forma muito particular de olhar para o tempo e para a história; acredita tanto no cinema, que pensa que o cinema é tão poderoso que pode alterar a história", disse o programador, justificando assim a escolha.

A História do Cinema é uma das linhas da edição deste ano do festival: "Pegámos no cinema francês, que esteve [presente] desde o inicio, pegámos nessa ideia e começámos a pôr no programa grandes filmes em cópias digitais, pegámos na Nouvelle Vague, [desde] finais dos anos 50, partimos desse centro, e começámos a juntar alturas muito importantes [do cinema] dos anos 60 até aos dias de hoje", acrescentou.

Outro foco do festival será o cinema mundo, no qual a organização pretende "evoluir" com cineastas que "tenham um discurso que esteja a refrescar o cinema" que se faz hoje em dia: "Desta vez tivemos uma escolha bastante politica (...), o que está a acontecer é que está a ecoar a crise na América, mas quem está a ter o discurso de cinema adulto é o cinema de terror", explicou.

"Isto já aconteceu nos anos 70, que parecia ser só para fazer dar saltinhos na cadeira, mas [os filmes] tinham sempre uma mensagem subliminar. Estão novamente a fazer isso, a falar do medo do outro, das questões da raça, de género", explanou.

Por fim, Vitor Ribeiro destacou o cinema para escolas, dizendo que "é cada vez mais necessária a formação do espetador do cinema" e destacando o "reforço da ideia de comunidade" como lógica do festival.

O Close-Up é organizado pela autarquia e pela Casa das Artes, com os bilhetes a custarem entre um a dois euros, com exceção para os filmes-concerto, que terão o custo de seis euros.