
O realizador norte-americano Julian Schnabel rebateu os apelos para boicotar o ator escocês Gerard Butler, que tem sido alvo de ativistas pelo seu alegado apoio anterior ao exército israelita.
Butler tem uma prestação emocionante como assassino contratado no mais recente filme de Schnabel — "In The Hand of Dante" ("Nas Mãos de Dante", em tradução literal) — que estreou no Festival de Veneza na quarta-feira.
"É lamentável", disse Schnabel à agência France-Presse (AFP) sobre os pedidos de boicote do grupo ativista Venice4Palestine, que citou a participação de Butler num evento de angariação de fundos para o exército israelita em 2018.
"Nem é verdade", acrescentou o artista e realizador do filme nomeado para os Óscares "O Escafandro e a Borboleta".
"Foi a um cocktail com alguém e, por acaso, tiraram-lhe uma fotografia. Não angariou dinheiro para eles."

Butler ("Como Treinares o Teu Dragão", "300") foi uma das várias estrelas a marcar presença numa gala de Hollywood em 2018, organizada pelos Amigos das Forças de Defesa de Israel (tradução literal, FIDF na sigla original), que arrecadou um recorde de 60 milhões de dólares, de acordo com uma notícia da revista Variety da época.
Outros participantes incluíram o ator Ashton Kutcher e Pharrell Williams, músico e diretor de moda masculina da Louis Vuitton, que proporcionou o entretenimento.
O Venice4Palestine, coletivo de cineastas independentes italianos, pediu aos organizadores do festival de Veneza que retirassem o convite de Butler, bem como da atriz israelita Gal Gadot, que também protagoniza "In The Hand of Dante" juntamente com Oscar Isaac, Jason Momoa e, em participações especiais, Martin Scorsese e Al Pacino.
Schnabel, judeu e crítico da guerra de Gaza, disse à AFP que Butler tinha feito a "interpretação da sua vida" no seu filme sobre o roubo do manuscrito original da "Divina Comédia", de Dante Alighieri.

O Festival de Veneza afastou a possibilidade de desconvidar atores — Butler e Gadot não eram esperados este ano, de qualquer forma —, mas o cofundador e diretor do Venice4Palestine, Fabiomassimo Lozzi, defendeu o boicote.
"Acredito que se justifica, da mesma forma que acreditava há cerca de 40 anos que se justificava boicotar os artistas que se apresentaram na África do Sul no auge do apartheid", disse à AFP.
O argumentista israelita Hagai Levi ("Cenas de um Casamento"), outro crítico acérrimo da guerra de Gaza, disse à AFP em Veneza que qualquer boicote precisa de ser dirigido.
"Noventa por cento da comunidade artística em Israel" era contra a guerra, disse.
"Boicotá-los, na verdade, enfraquece as únicas pessoas que podem fazer a diferença, ou pelo menos aquelas que estão a lutar", disse à AFP na terça-feira.
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