Pode uma simples árvore que projeta uma incómoda sombra sobre o pátio do vizinho ao lado provocar um conflito de proporções inacreditáveis?

Tudo indica que sim e o que demonstra o realizador Hafsteinn Gunnar Sigurðsson em “A Árvore da Discórdia” é que aquilo que separa a nossa civilidade do completo caos é apenas um passo.

Uma comédia muito negra com tons tragicómicos, o filme estreou no Festival de Veneza do ano passado e veio a ser escolhido pela Islândia como o representante na corrida ao Óscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 2018 (falhou a nomeação).

Foi também mais um ponto do cineasta no circuito dos festivais internacionais e no reconhecimento da crítica – já que os seus dois projetos anteriores, “Either the Way” (2011), refilmado nos Estados Unidos como “Prince Avalanche”, e "Paris of the North" (2014), tiveram bom reconhecimento neste itinerário.

"A Árvore da Discórdia" está em exibição exclusiva nos cinemas UCI e fica disponível na plataforma Filmin e em DVD a partir da próxima semana.

Hafsteinn Gunnar Sigurðsson respondeu a algumas questões do SAPO Mag sobre esta incrível tendência do ser humano em desequilibrar-se perante uma simples “sombra” sobre os seus “domínios”…

O seu filme sugere que pessoas comuns perdem a sua noção de civilidade quando expostas a algum tipo de invasão ao que elas entendem como “seu” espaço…

Sim, exato. O que originalmente me estimulou sobre este material é que os conflitos entre vizinhos envolvem, normalmente, pessoas respeitáveis, que não são conhecidas por agressões ou comportamentos violentos. Mas quanto alguém começa a opinar sobre como a sua casa deveria ser, isso deixa as pessoas malucas e, sob algumas circunstâncias, elas terminam por trazer cá para fora um lado muito feio…

Acha que esse tipo de intolerância também pode ser encontrada numa escala maior, servindo como motivo para disputas entre países, por exemplo?

Completamente. Quando se pensa sobre isso, a guerra é muitas vezes um conflito entre vizinhos – apenas numa escala maior. E, muitas vezes, é despoletada por uma falha de comunicação, uma falta de compreensão em relação aos outros. Viver em comunidade implica sempre caminhar na direção de um compromisso. Para mim, “A Árvore da Discórdia” é sobre isso, sobre a guerra, é um filme antiguerra. Era importante para mim trazer esse assunto para um contexto quotidiano.

Os atores Sigurdur Sigurjonsson, Steindor Hroaf Steindorsson e Edda Bjorgvinsdottir com o realizador Sigurdur Sigurjonsson, Steindor Hroaf Steindorsson, Edda Bjorgvinsdottir and Icelandic director Hafsteinn Gunnar Sigurdsson durante o Festival de Veneza.

Os seus filmes têm feito uma sólida no circuito de festivais internacionais. Como analisa essa trajetória?

Não sou propriamente a pessoa indicada para falar nisto, uma vez que apenas situo o foco em fazer filmes e conseguir que eles circulem. É fantástico quando eles são reconhecidos e vistos pelo público. É para isso que eu os faço. Espero que o filme tenha uma ressonância junto ddo público português.

Já tem novos projetos?

Sim, estou sempre a trabalhar. Neste momento estou numa série de TV e num filme. Neste caso, espero que a produção comece no final deste ano…

Trailer: