Quem disse que não era um horror ser mãe solteira?
«O Senhor Babadook» é um senhor filme a quem tiramos o chapéu no término desta surpreendente obra de estreia da australiana Jennifer Kent. É possível ver «online» a curta-metragem «Monster» desta realizadora, que serviu de rampa de lançamento para este filme de baixo orçamento. E se terror não é propriamente o meu campo de batalha favorito, uma obrigação profissional devido a uma entrevista com a realizadora levou-me a visionar esta fita e a ficar pasmado com a sua inteligência.
No centro da história não está um bicho papão, mas um terror dentro do terror: uma mãe solteira que tem de lidar com um filho psicótico de nove anos e a memória da perda do marido no dia em que deu à luz à criança.
O ponto de partida é uma mulher à beira de um ataque de nervos: a altruísta enfermeira num lar Amanda (Essie Davis), que vive para os outros e tenta proteger e compreender o seu filho (Daniel Henshall), que tem medo dos papões no armário. Mas onde há fumo há fogo e o monstro do armário toma forma e muda-se de armas e bagagens lá para casa.
A partir de um misterioso livro e um perturbador álbum «pop-up» (concebido pela ilustradora Alexandra Juhasz), conta-se a história de uma criatura que aterroriza as famílias e provoca, em última instância, a morte das mesmas.
No segundo ato, inicia-se uma prova de fogo para os espetadores, com o horror a ser realizado sem tiques de câmara e isento de truques CGI: tudo é concebido de uma forma sóbria e bastante calma, com a realizadora a deixar atores, baratas, luzes que estoiram e escuridão fazerem estragos a seu belo prazer.
As interpretações são poderosas, com a australiana Essie Davies definitivamente possuída pelo génio da interpretação! O puto Daniel Henshall deu certamente muito trabalho de preparação, mas também lhe corre nas veias talento para assustar e proteger a sua mãezinha no ecrã quando chega a hora do lobo…
«O Senhor Babadook» é terror de primeira água que se confunde com os fantasmas do drama familiar e se distingue pela realização perspicaz e interpretações cheias de tenacidade. Um «must»!
Jorge Pinto
4 estrelas
Revista Metropolis
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