"Dahomey", da franco-senegalesa Mati Diop, foi o grande vencedor da 74ª edição do Festival de Berlim. O júri liderado por Lupita Nyong'o atribuiu o prémio principal ao mais recente filme da realizadora de "Atlantique", um documentário sobre a restituição por parte da França de 26 artefactos do antigo Reino de Daomé ao Benim, levados daquele espaço durante o período colonial. A cineasta fez um discurso apaixonado pela recuperação da memória, pela democracia, pela justiça e contra a descriminação, não esquecendo uma mensagem política a favor da Palestina, a culminar uma cerimónia cheia de referências aos dois grandes conflitos bélicos atualmente em curso.

Albert Serra apresentou o Urso de Prata Grande Prémio do Júri ao drama "A Traveler's Needs", o mais recente filme do sul-coreano Hong Sang-soo, que questionou de forma humorística o que terão os jurados visto no filme.

A comédia pós-apocalíptica de ficção científica "L'Empire", de Bruno Dumont, ganhou o Urso de Prata Prémio do Juri, o mesmo que ganhou o ano passado João Canijo por "Mal Viver",  e o Urso de Prata para Melhor Realização foi atribuído a Nelson Carlo De Los Santos Arias pelo filme "Pepe", da Republica Dominica, cruzamento de doumentário e ficção que imagina a vida de um hipopótamo morto nas selvas da Colômbia, que o próprio recorda enquanto fantasma.

Os galardões de interpretação, desde 2021 sem distinção de géneros, foram atribuidos a Sebastian Stan por Melhor Interpretação Principal, por "A Different Man", de Aaron Schimberg, e a Emily Watson para Melhor Interpretação Secundária pelo irlandês "Small Things Like This", de Tim Mielants, a partir do romance de Claire Keegan e protagonizado por Cillian Murphy.

O Urso de Prata de Melhor Argumento foi para o alemão "Dying", de Matthias Glasner, e o Urso de Prata para Excelência de Contribuição Artística foi para o diretor de fotografia Martin Gschlacht pelo filme "The Devil's Bath".

Na secção Encontros, onde estava a concurso o português "Mãos no Fogo", de Margarida Gil, o troféu de Melhor Filme foi atribuído ao documentário franco-alemão "Direct Action", de Guillaume Cailleau e Ben Russell, um mergulho em profundidade numa comunidade de ativistas de uma zona rural de França, que também ganhou uma menção especial do júri que atribuiu os prémios para documentários. Ainda na secção Encontros, o galardão de Melhor Realização foi para a brasileira Juliana Rojas por "Cidade; Campo", que cruza duas histórias de migração no país, e o Prémio Especial do Juri foi atribuído ex-aequo ao iraniano "The Great Yawn of History", de Aliyar Rasti, e à coprodução chinesa "Some Rain Must Fall", de Qiu Yang.

Tanto o troféu para Melhor Primeiro Filme como para Melhor Documentário atravessavam as várias secções do festival. No primeiro caso, o galardão foi para o vietnamita "Cu Li Never Cries", realizado por Lân Phạm Ngọc, que integrava a secção Panorama. No segundo foi para "No Other Land", da Palestina (assinado por Basel Adra, Hamdan Ballal, Yuval Abraham e Rachel Szor), com os jurados a fazerem questão de criticar a ocupação israelita e os realizadores a pedirem à Alemanha para parar de enviar armas a Israel.

O filme chinês "Remains of the Hot Day", de Wenqian Zhang, recebeu o Urso de Prata para Melhor Curta-Metragem, enquanto o Urso de Ouro na mesma categoria foi para o argentino "Un Movimiento Extraño", de Francisco Lezama, que criticou no seu discurso a forma como estão atualmente a ser tratadas as instituições públicas ligadas à cultura no seu país.

Além de "Mãos no Fogo", de Margarida Gil, na secção Encontros, Portugal esteve presente no evento no programa “Fórum”, com “As noites ainda cheiram a pólvora”, do moçambicano Inadelso Cossa, e “Ressonância em espiral”, de Filipa César e Marinho de Pina, ambos com coprodução portuguesa.

Os troféus de carreira foram atribuídos durante o festival a Martin Scorsese, que recebeu o Urso de Ouro Honorário, e Edgar Reitz, a que foi atribuído o Berlinale Camera.

O 74º. Festival de Cinema de Berlim teve início a 15 de fevereiro e termina amanhã, dia 25.