Novos filmes protagonizados por Cillian Murphy, Kristen Stewart, Gael Garcia Bernal e Adam Sandler estarão no topo da programação do festival de cinema de Berlim a partir de quinta-feira, que corre o risco de ser afetado pela geopolítica.
Atingido pela pandemia e pelas greves do ano passado em Hollywood, o cinema internacional está a desfrutar de uma forte recuperação e a enviar alguns das suas estrelas para a invernal capital alemã para 11 dias de estreias e festas.
Mas a guerra em Gaza, a repressão cultural no Irão e uma extrema-direita cada vez mais poderosa na Alemanha correm o risco de estragar a atmosfera da 74.ª edição do festival anual conhecido por Berlinale, a primeira grande mostra de cinema do ano na Europa.
"No passado, o festival permitiu que a política global estivesse em foco - no ano passado, com a guerra na Ucrânia, por exemplo", disse à France-Presse Scott Roxborough, o chefe da delegação europeia da revista The Hollywood Reporter.
“Gaza é um tema nas ruas de Berlim este ano e pode ser extremamente polarizador”, com cineastas convidados a declarar a sua posição sobre a guerra e os protestos esperados sob os holofotes da Berlinale entre 15 e 25 de fevereiro.
O jornalista notou que um pequeno número de realizadores retirou os seus filmes inscritos antes do evento em protesto contra o apoio do governo alemão a Israel.
No entanto, a Berlinale evitou outra questão polémica que, provavelmente, teria desencadeado manifestações, ao rescindir após uma enxurrada de críticas um convite para a noite de abertura a cinco representantes do ressurgente partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha.
A dupla de diretores cessantes do festival, Mariette Rissenbeek e Carlo Chatrian, disse que os dirigentes "não eram bem-vindos na Berlinale", numa posição contra "o anti-semitismo, o ressentimento anti-muçulmano (e) o discurso de ódio".
Fantasia e ficção científica
Entretanto, o evento, que há muito tempo defende os realizadores iranianos sob ameaça, instou Teerão a permitir a participação de dois cineastas que teriam sido alvo de uma proibição de viajar.
Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha deveriam apresentar o seu novo filme "My Favorite Cake", sobre as restrições impostas às mulheres iranianas, entre os 20 filmes em competição.
Cillian Murphy Murphy, nomeado ao Óscar de Melhor Ator por “Oppenheimer”, abrirá o festival com o drama “Small Things Like This”, sobre o abuso sistemático de mulheres “desfavorecidas” em lavandarias irlandesas administradas pela Igreja Católica.
A estrela irlandesa juntou-se para o filme com o cineasta belga Tim Mielants, que o dirigiu na série de sucesso “Peaky Blinders”.
Kristen Stewart, que liderou o júri da Berlinale do ano passado, apresentará "Love Lies Bleeding", sobre a ligação violenta entre a gerente de um ginário e uma culturista bissexual.
O festival deste ano apresenta uma forte programação de filmes de fantasia e ficção científica e o novo cinema da África.
Adam Sandler revelará o seu último filme da Netflix, “Spaceman”, sobre um astronauta solitário afastado da sua esposa, interpretada por Carey Mulligan.
Gael Garcia Bernal aparece em "Another End", que projeta a existência de uma tecnologia que permite às pessoas enlutadas voltarem a contactar com os mortos. Ao lado do ator mexicano estão duas vencedoras do prémio de Melhor Atriz no Festival de Canne, Renate Reinsve ("A Pior Pessoa do Mundo") e Berenice Bejo ("O Artista").
Bruno Dumont, o favorito do circuito 'arthouse' francês, apresentará "The Empire", anunciado como uma paródia de "Star Wars".
O debate tenso sobre restituição
O realizador mauritano Abderrahmane Sissako, que ganhou o César de Melhor Filme, o equivalente francês aos Óscares, com "Timbuktu" (2014), regressa com "Black Tea", a história de uma mulher da Costa do Marfim que se apaixona por um comerciante de exportação na China.
A realizadora franco-senegalesa Mati Diop (do sucesso da Netflix "Atlantics") exibirá "Dahomey", um documentário sobre o regresso de artefactos culturais da Europa à África Ocidental, enquanto "The Empty Grave" também abordará o tenso debate sobre a restituição.
O Urso de Ouro da Berlinale no ano passado foi para "Sobre l'Adamant", um documentário francês de Nicolas Philibert sobre os que frequentam um centro psiquiátrico que funciona num edifício flutuante sobre o rio Sena, em Paris.
Este ano, a atriz queniana-mexicana Lupita Nyong'o será a primeira presidente negra do júri do festival.
E Martin Scorsese, nomeado pela décima vez para o Óscar de Melhor Realização por "Assassinos da Lua das Flores", recorde para um cineasta vivo, deve estar em Berlim para receber um Urso de Ouro Honorário pela sua carreira.
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