O compositor Angelo Badalamenti, que ficou famoso pelas suas composições para os filmes e séries de David Lynch, faleceu no domingo em New Jersey, de causas naturais aos 85 anos, anunciou a sua família.
Ítalo-americano nascido em Brooklyn (Nova Iorque), a 22 de março de 1937, o seu trabalho incontornável é o da banda sonora para a série "Twin Peaks" (1990-1991), uma das mais famosas de sempre para o pequeno ecrã, vencedora de um Grammy de Melhor Performance Pop Instrumental e que vendeu centenas de milhares de cópias, com a perturbação hipnótica de Lynch prolongada em faixas memoráveis como "Twin Peaks Theme", "Laura Palmer's Theme" ou a canção "Falling" (com a voz de Julee Cruise, falecida há seis meses).
A colaboração com o realizador começou no cinema com "Veludo Azul" (1986), quando foi chamado para ajudar Isabella Rossellini a cantar a canção-título acabou por ser supervisor, compositor da banda sonora, escreveu a canção "Mysteries of Love" e até aparece numa cena a tocar piano num bar.
A seguir vieram "Um Coração Selvagem" (1990), "Twin Peaks: Os Últimos Sete Dias de Laura Palmer" (1992), "Lost Highway: Estrada Perdida" (1997), "Uma História Simples" (1999) e "Mulholland Drive" (2001). Para televisão, houve ainda as composições para o telefilme "Industrial Symphony No. 1" (1990), a série "On the Air" em 1992, cancelada ao fim de três episódios, a minissérie "Hotel Room" (1993), e no regresso de "Twin Peaks" em 2017. A colaboração prolongou-se em várias curtas, nomeadamente as de "Rabbits" (2002) e "Darkened Room" (2002), e até na publicidade.
Para lá do "planeta Lynch", destaca-se a passagem pelos mundos de Paul Schrader, com as bandas sonoras para "Estranha Sedução" (1990), "Witch Hunt" (TV, 1994), "Forever Mine" (1999), "Auto Focus" (2002), "Dominion: A Prequela de o Exorcista" (2005).
Numa carreira prolífica que incluiu muitas colaborações com cineastas não-americanos, surgem "Pesadelo em Elm Street 3" (1987, Chuck Russell), "Entre Primos" (1989, Joel Schumacher) e "Que Paródia de Natal" (1989, Jeremiah S. Chechik), "A Cidade das Crianças Perdidas" (1995, Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet), "O Suspeito da Rua Arlington" (1999, Mark Pellington), "Fumo Sagrado" (1999, Jane Campion), "Aquele Amor" (2001, Josée Dayan), "A Praia" (2002, Danny Boyle), "A Secretária" (2002, Steven Shainberg), "O Adversário" (2002, Nicole Garcia), "A Cabana do Medo" (2002, Eli Roth), "Evilenko" (2003, David Grieco), "Before the Fall" (2004, Dennis Gansel), "Um Longo Domingo de Noivado" (2004, Jean-Pierre Jeunet), "Águas Passadas" (2005, Walter Salles), "O Escolhido" (2006, Neil LaBute), "No Limite do Amor" (2008, John Maybury) e "Rapto Perigoso" (2009, Malcolm Venville), "Um Quarteto Único" (2012, Yaron Zilberman), "Estalinegrado" (2013, Fedor Bondarchuk), "Gold Coast" (2015, Daniel Dencik), " The Wait" (2016, Tiziana Bosco) e o documentário "Koi" (2019, Lorenzo Squarcia).
Badalamenti começou a ter aulas de piano aos 8 anos e obteve o diploma de bacharelato em 1958 e o mestrado em 1959 pela Manhattan School of Music. O trabalho no cinema começou ainda como Andy Badale em "O Comando Anti-Droga" (1973), um filme de ação realizado pelo ator Ossie Davis, e "Patrulha Auxiliar" (1974), de Ivan Passer.
Fora do cinema, colaborou com artistas como Nina Simone, Ronnie Dove, Della Reese, Shirley Bassey, Jean-Jacques Perrey, Michael Jackson, Paul McCartney, David Bowie, Liza Minnelli, Dolores O'Riordan, Marianne Faithfull, Mel Tillis, Roberta Flack, Dolores O'Riordan, Tim Booth e LL Cool J, passando pelos Pet Shop Boys, Anthrax e Dokken, compôs a banda sonora do videojogo "Fahrenheit" (2005) e "The Flaming Arrow", para a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Barcelona (1992).
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