Dois filmes portugueses são exibidos hoje no IndieLisboa.

Em “O Cinema, Manoel de Oliveira e Eu”, João Botelho, com narração do próprio, apresenta uma homenagem ao cineasta, falecido no ano passado, através de excertos e comentários sobre as obras de Oliveira, mencionando ainda alguns recordações pessoais.

Os dois conheceram-se quando Botelho tinha 27 anos e o realizador de “Amor de Perdição” já 68. Manoel de Oliveira fez ainda uma participação como ator em “Conversa Acabada”, o primeiro filme de João Botelho.

Esta amostragem da obra de Oliveira culmina numa espécie de reconstrução dos signos e técnicas do realizador, com citações aos seus filmes, numa curta-metragem baseada numa história imaginada por ele mas nunca realizada – aqui intitulada “A Rapariga das Luvas”, feita à moda do cinema mudo.

Já “O Lugar que Ocupas”, de Pedro Filipe Marques, inaugura a competição nacional.

Trata-se de um ensaio documental sobre o teatro de Marques, vencedor de vários prémios com “A Nossa Forma de Vida”, curta-metragem de 2010. É a primeira longa-metragem do montador de filmes de Pedro Costa e Miguel Gomes.

Lições de sexualidade sentimental

Outro dos destaques é “Love”, do' enfant terrible' Gaspar Noé, que já perturbou meio mundo com “Irreversível” e enjoou outros tantos com “Enter the Void”.

Aqui ele constrói em flashback, com uma técnica muito própria, a história de um intenso triângulo amoroso e para não variar, a confusão começou já em Cannes, onde estreou fora de competição em 2015.

Uma das razões foi o facto das cenas de sexo explícito não serem simuladas e onde, segundo objetivo expresso de Noé, se procurou questionar os limites do puritanismo enquanto propunha um estudo sentimental sobre a sexualidade.

O medo dos atores, Karl Glusman, Aomi Muyock e Klara Kristin, era enorme e, conforme têm relatado, nunca sabiam o que ia acontecer a seguir, até que, como disse Glusman, perceberam que não estava a fazer “nada perverso”.

E foi mais longe na provocação: “Veja-se o caso de 'Ninfomaníaca', de Lars von Triers. O filme pretende ser ousado, mas todas as cenas são com duplos. Imagino que é porque os atores estão à espera de ser convidados para fazer um filme pela Disney”.

Não propriamente puritano também é “Ilegitim”, do romeno Adrian Sitaru, estreado em Berlim na secção Forum.

O filme centra-se na vida de uma família onde o pai médico tem um passado “suspeito” de informador durante a longa ditadura de Ceaucescu. A causa: a proibição do aborto. Ao mesmo tempo que entra em guerra aberta com os quatro filhos, dois deles (vividos por Alina Gregori e Robi Urs) mantém relações sexuais regulares.

A intensidade e o caos do filme estão relacionados com as técnicas muito particulares de Sitaru que, seguindo os conselhos da sua atriz principal, não utilizou um argumento prévio, deixando que ensaios exaustivos fossem construindo as relações entre os personagens. Isso enquanto usava dois diretores de fotografia para filmar como entendessem…