Naquele que é o primeiro
DocLisboa sob a sua direção – embora já integrasse o comité de seleção desde 2007 –,
Anna Glogowski garante, em entrevista à agência Lusa, a «continuidade», no que se refere «ao esqueleto do festival, que já funcionava bem».

Mas fez «algumas alterações». Deixa de haver um foco sobre um país e uma secção de médias-metragens (há uma de curtas, de filmes até 40 minutos, e uma que agrupa médias e longas). Foi necessário «concentrar» o festival em «menos filmes e menos salas», explica, referindo que isto tem a vantagem de juntar as pessoas no mesmo espaço, dando-lhes a sensação de que «se partilhou alguma coisa».

«Não tem a ver com a crise… Quer dizer, é evidente que tentamos fazer uma racionalidade de custos», reconhece, assegurando que as mudanças afetaram mais a dimensão da equipa do que a qualidade dos filmes. «Foi uma escolha que fizemos, com sacrifícios para as pessoas, que estão a trabalhar muito, muito, muito, e com salários que não são enormes», admite.

«Estamos a tentar garantir que o DocLisboa não apague por diminuição de filmes nem pela dimensão da qualidade», de forma a «manter essa estrela do DocLisboa brilhando aqui e lá fora também», diz.

Quanto aos destaques da programação, Anna Glogowski começa por falar da seleção de filmes para
«Movimentos de Libertação em Moçambique, Angola e Guiné-Bissau (1961-1974)», a propósito do 50º aniversário do início da guerra colonial.

O documentário, reclama, tem que ter «a consciência de que o mundo está-se mexendo» e os cineastas, «como cidadãos», têm «a responsabilidade de confraternizar com esses eventos».

Nesse sentido, haverá também um foco sobre as revoluções árabes, das quais «até agora nada foi mostrado em Portugal», com destaque para
«In film nist/This is not a film» (na imagem), testemunho dos detidos iranianos
Jafar Panahi e
Mojtaba Mirtahmasb, que foi transportado dentro de um bolo até ao festival de cinema de Cannes (e que se estreará nas salas nacionais uns dias depois, distribuído pela Alambique).

«Plus jamais peur/No more fear», do tunisino Mourad Ben Cheikh, e
«Tahrir – Revolution Square», do italiano Stefano Savona, que vão estar no DocLisboa, são outros dos destaques, a par do filme anónimo
«Fragments d’une révolution», feito a partir de imagens das eleições iranianas de 2009, colocadas nas redes sociais.

«Um festival é um privilégio», realça Anna Glogowski, recordando que «há filmes que só se podem ver em festivais» e que normalmente o autor da obra está presente, sendo possível «discutir com ele, conhecê-lo, fazer perguntas».

A diretora do DocLisboa destaca ainda a presença do cineasta alemão
Harun Farocki, que dará uma «masterclass» sobre o seu trabalho de reflexão acerca da relação do homem com a imagem.

Aquele que se apresenta como o segundo maior festival de documentário da Europa tem, acredita, «grandes responsabilidades a nível do presente e do futuro», tentando, simultaneamente, «mostrar descobertas» e «dar lugar a novos cineastas», mas também garantir ao público «os melhores filmes que foram feitos durante o ano a nível internacional».

Na edição deste ano, que decorre de 20 a 30 de outubro, serão apresentadas 17 primeiras obras. Dos seis filmes de média e longa metragem que integram a competição portuguesa, quatro são primeiras obras.

Reconhecendo que não são muitos os filmes portugueses no DocLisboa, Anna Glogowski promete «boas surpresas».

No total, o nono DocLisboa vai mostrar 172 documentários, de 33 países, incluindo sete estreias a nível internacional (fora do país de origem) e cinco a nível mundial.
«Crazy Horse», de
Frederick Wiseman, abrirá o festival.

O filme português
«É na Terra não é na Lua»[b][/b], de Gonçalo Tocha, é um dos 13 filmes em competição internacional.

@Lusa