Um dos mais frequentados e prestigiados do mundo, o festival de cinema alemão decorre entre 11 e 21 de fevereiro.
"Salve, César!", dos irmãos Coen, faz as honras de abertura trazendo uma reconstrução da Hollywood dos anos 50 em tons de comédia, mas para Portugal trata-se da melhor edição de sempre, com uma longa-metragem em competição e mais três na seção Fórum. Completam a lista outro trio de curtas-metragens.
No mundo fora dos flashes e tapetes vermelhos, o festival conecta-se com a realidade dos refugiados através de uma série de iniciativas paralelas.
Paisagens distantes: o cinema português em Berlim
Com quatro longas-metragens pode-se perguntar: que Portugal será mostrado aos visitantes da Berlinale?
Em termos de enquadramento espaço temporal, a ênfase dos filmes não recai sobre o mundo contemporâneo ou urbano, mas traz antes abordagens históricas e paisagens distantes – sejam elas provenientes do interior português, das selvas africanas ou da América do Sul onde, neste último caso, o retrato é o de uma comunidade mineira local.
As memórias da descolonização estão no centro de “Cartas da Guerra”, a única selecionada para a competição principal. O realizador Ivo M. Ferreira, na sua terceira longa de ficção, inspirou-se nas cartas que António Lobo-Antunes escreveu no período em que esteve destacado no país, entre 1971 e 1973, para construir um testemunho sobre o amor e a guerra. O elenco inclui nomes conhecidos da televisão, como Ricardo Pereira, Margarida Villas-Boas e Miguel Nunes (ex-"Morangos com Açúcar").
A África também está no centro de “Posto Avançado do Progresso” – mas desta vez o território é o do Congo. Foi lá que, no século XIX, dois colonizadores embrenharam floresta a dentro em busca de aventuras e fortuna. O seu entusiasmo inicial, no entanto, dá lugar a um processo de opressão progressiva.
Como fonte de inspiração está “O Coração das Trevas”, de Joseph Conrad – obra que já serviu de base tanto para opulentas odisseias (“Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola) quanto para devaneios interiores ("A Loucura de Almayer", de Chantal Akerman). O filme é produzido por Paulo Branco e é o terceiro trabalho de Hugo Vieira da Silva, cujo anterior, “Swans”, de 2011, também estreou na Fórum. Nuno Lopes e Ivo Alexandre protagonizam.
Os outros dois projetos transitam na fronteira do documental.
“Rio Corgo” já é conhecido dos espectadores portugueses – ou, pelo menos, do público do Doclisboa, onde recebeu dois prémios na última edição. Primeira longa-metragem da dupla Maya Koza e Sérgio da Costa, o filme mergulha de forma alegórica no interior de uma aldeia portuguesa.
Já Salomé Lamas, que esteve em Berlim em 2012 com “Terra de Ninguém”, foi à Rinconada, nos Andes peruanos, considerada a cidade mais alta do mundo, para retratar a vida da comunidade do local – ao mesmo tempo que tece um comentário de cunho mais universal sobre as mazelas da exploração capitalista.
Passadeira vermelha
Enquanto a programação do festival impõe um forte acento no cinema de autor, fora desta esfera o apelo popular estará no tapete vermelho onde circulam as estrelas. A começar por “Salve, César!”, que traz a Berlim alguns dos famosos membros do seu elenco – casos de George Clooney, Josh Brolin, Channing Tatum, Tilda Swinton e Alden Ehrenreich.
Entre outras celebridades estão Julianne Moore e a musa 'indie' Greta Gerwig, que protagonizam “Maggie’s Plan”, Kirsten Dunst e Michael Shannon, que aparecem com “ Midnight Special”, e Logan Lehrman e Sarah Gadon, que apresentam “Indignation”.
Também confirmados estão Jude Law e Colin Firth (“Genius”), Isabelle Huppert (“L’Avenir”), Emma Thompson e Daniel Bruhl (“Alone in Berlin”) e Steve Coogan (“Shepherds and Butchers”).
Vindos da televisão Alexander Skarsgard, o vampiro Eric, de “Sangue Fresco”, faz parceria com Michael Peña em “War on Everyone”, enquanto Cynthia Nixon (a Miranda de “O Sexo e a Cidade”) protagoniza o novo trabalho do britânico Terence Davies, “A Quiet Passion”. O “Dr. House” Hugh Laurie, por seu turno, apresenta no festival a série “The Night Manager”, que protagoniza ao lado de Tom Hiddleston.
A competição
Analisados por um júri presidido por Meryl Streep, 18 filmes competem pelos Ursos de Ouro e Prata.
O trabalho de Ivo M. Ferreira disputa o prémio máximo com vários cineastas habituados a certames internacionais. Entre eles estão André Techiné (“Quando n a 17 Ans”), Alex Gibney (“Zero Days”), Mia Hansen-Love (“L’Avenir”), Denis Coté (“Boris and Beatrice”), Thomas Vintenberg (“The Commune”), Rafi Pitts ("Soy Nero") e Jeff Nichols (“Midnight Special”).
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