"É de facto excecional para nós [Ukbar Filmes] e também para o cinema português, que tem tido uma presença internacional extremamente consistente e há um manifesto interesse, não é uma coisa esporádica. Há realizadores, como o João Salaviza, o Miguel Gomes, o Ivo Ferreira que têm contribuído para isso", afirmou a produtora à agência Lusa.

Pandora da Cunha Telles, 37 anos, fundadora da produtora Ukbar Filmes, está em Berlim como coprodutora de dois filmes brasileiros, com atores portugueses no elenco e ambos tendo como cenário o Brasil colonizado: "Joaquim", de Marcelo Gomes, que integra a competição pelo Urso de Ouro, e "Vazante", de Daniela Thomas, que abrirá a secção Panorama.

Os dois filmes fazem parte de uma estratégia da Ukbar Filmes de trabalhar com outros produtores a nível internacional, apostar em produções cinematográficas "que possam não só estar no mercado nacional, mas também estrear-se internacionalmente".

A par daqueles dois filmes, que deverão ter estreia comercial em Portugal, a Ukbar Filmes prepara a primeira longa-metragem de Simão Cayatte e um filme de Gonçalo Galvão Teles sobre o soldado Milhões, o militar português que foi considerado um herói nacional na Primeira Guerra Mundial.

A produtora tem ainda em carteira um projeto italiano com Abel Ferrara, outro com a autora angolana Pocas Pascoal e filmes com Pedro Amorim e Vicente Alves do Ó.

"Queremos filmes mais narrativos, independentes, com uma história e boas personagens e que estejam também alicercados na nossa história recente", sublinhou a produtora.

Oitenta por cento dos filmes que a Ukar Filmes assina são em coprodução internacional, por isso Pandora da Cunha Telles diz ser fundamental estar presente em festivais em Berlim, Cannes, Veneza, Trieste e Rio de Janeiro.

A produtora elogia ainda a decisão do Governo português de atrair mais produções estrangeiras para território nacional, com contrapartidas fiscais, e espera que haja uma aprovação célere da nova regulamentação do cinema e audiovisual, contestada por vários produtores e realizadores, para que se abram novos concursos de apoio financeiro.

"É urgente que seja definida a estratégia para 2017, é preciso estabelecer o calendário quanto antes", disse.

Pandora da Cunha Telles começou há 13 anos a trabalhar na produção de cinema com o pai, o produtor António da Cunha Telles, uma das figuras do cinema novo português.

A curta-metragem "A fenda", de Margarida Leitão, foi o primeiro que produziu, em 2003. No ano seguinte assinou a produção de "Kiss me", realizado pelo pai.

Seguiu-se mais de uma dezena de curtas, longas-metragens e trabalho para televisão antes de fundar a Ukbar Filmes, que divide com o argentino Pablo Iraola e com a qual produziu, por exemplo, "Comboio de açúcar e sal", de Licínio Azevedo, "Campo de víboras", de Cristèle Alves Meira, "Florbela", de Vicente Alves do Ó, e "El rayo", de Fran Araújo e Ernesto de Nova.

Em Berlim, Pandora da Cunha Telles integra ainda o júri do programa "Shooting Stars", dedicado a novos talentos da representação na Europa.

O Festival de Cinema de Berlim termina no dia 19.