Bob Iger, presidente executivo da Disney, criticou os sindicatos dos atores e argumentistas de Hollywood pelas suas exigências laborais "irrealistas" e os danos que serão provocados por uma dupla greve na economia.

Esta quinta-feira, o comité nacional do Screen Actors Guild (SAG-AFTRA), que representa 160 mil artistas, incluindo estrelas de primeira linha, deverá votar pela entrada imediata em greve após se ter esgotado o último prazo das negociações com a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP), a organização que representa os grandes estúdios e plataformas de Hollywood, como Disney, NBCUniversal, Paramount, Sony, Warner Bros. Discovery, Netflix, Amazon e Apple.

A Aliança só conseguiu chegar a acordo com o sindicato dos realizadores, pelo que o dos atores deverá juntar-se ao dos argumentistas, em greve desde 2 de maio: uma "greve dupla", não vista em Hollywood desde 1960, paralisaria quase todas as produções de cinema e televisão dos EUA, levando a longos atrasos e, no caso dos filmes, adiamento das grandes produções.

Uma greve do SAG também impediria que as estrelas promovessem os seus filmes, bem no auge da temporada de grandes sucessos de bilheteira da indústria cinematográfica.

Atores e argumentistas exigem salários mais elevados para combater a inflação e garantias para os seus meios de subsistência futuros. Em causa estão ainda os pagamentos de chamados de "resíduos" sempre que um filme ou programa é exibido em televisão: plataformas de streaming como a Netflix e a Disney+ a não divulgam os números de exibição dos seus programas e oferecem a mesma taxa fixa para tudo o que está no seu catálogo, independentemente da sua popularidade.

Para dificultar ainda mais o panorama, os dois sindicatos querem regular o uso futuro de Inteligência Artificial nas produções, mas os estúdios até agora recusaram-se a ceder.

Bob Iger, que viu prolongado na quarta-feira até 2026 o regresso anunciado em novembro de 2022 como CEO da Disney, cargo que ocupara entre 2005 e 2020, acha que esta é a "pior altura do mundo" para uma dupla greve numa indústria que enfrenta "forças disruptivas" e os desafios da recuperação da pandemia.

"Falámos sobre as forças disruptivas nesta indústria e todos os desafios que estamos a enfrentar na recuperação da COVID-19, que estão em andamento. Não está totalmente de volta. Esta é a pior altura do mundo para aumentar essa perturbação", disse presidente executivo do maior estúdio de Hollywood numa entrevista à CNBC esta quinta-feira.

"Percebo o desejo de qualquer organização laboral de trabalhar em nome dos seus membros para obter o máximo de remuneração de forma justa com base no valor que entregam. Conseguimos, como indústria, negociar um acordo muito bom com o sindicato dos realizadores, que reflete o valor do seu contributo. Queríamos fazer o mesmo com os argumentistas e gostaríamos de fazer o mesmo com os atores. Há um nível de expectativa que eles têm que simplesmente não é realista e estão a acrescentar a um conjunto de desafios que esta indústria já está a enfrentar e que, francamente, é muito perturbador", acrescentou.

Reforçando que respeita as reivindicações, acrescenta que também é preciso "ser realista sobre a situação da indústria e o que esta pode oferecer. Tem sido uma ótima indústria para todas estas pessoas e continuará a ser mesmo em tempos difíceis. Mas ser realista é imperativo".

A greve, diz, "terá um efeito muito, muito prejudicial para toda a indústria. E, infelizmente, há enormes danos colaterais no setor para pessoas que trabalham com serviços de suporte. Poderia estar aqui a falar sem parar sobre isso. Vai afetar a economia e diferentes áreas, até pela dimensão da indústria".

"É uma pena. Realmente é uma pena", lamentou.

A ENTREVISTA.