A 76.ª edição do Festival de Cannes começa esta terça-feira (16) com o polémico ator norte-americano Johnny Depp em "Jeanne du Barry", um filme francês que retrata a Versalhes do século XVII e que abre um evento repleto de estrelas.

Aos 59 anos, a estrela de "Piratas das Caraíbas" deseja virar a página das acusações de violência conjugal da sua ex-esposa Amber Heard, que resultaram num julgamento por difamação que o ator venceu.

Para alcançar o seu objetivo, Depp tem o apoio do festival cinematográfico, um dos mais importantes do mundo, ante a hostilidade de Hollywood.

"Johnny Depp interessa-me como ator", declarou na segunda-feira o diretor-geral do evento, Thierry Frémaux, ao ser questionado sobre o tema.

Depp interpreta o rei Luís XV no filme, rodado em cenários espetaculares pela realizadora francesa Maïwenn, que interpreta a protagonista, Jeanne du Barry, cortesã e amante favorita do rei.

Após o filme de abertura, a edição de Cannes em 2023 atuará como uma ponte entre uma grande geração de cineastas e atores, alguns deles já octogenários, e os seus sucessores.

Uma geração de octogenários

Martin Scorsese com Lily Gladstone, revelação de "Killers Of The Flower Moon"

A passadeira vermelha do festival receberá Harrison Ford (80 anos), que apresentará o quinto e possivelmente último filme como Indiana Jones ("Indiana Jones e o Marcador do Destino").

O cineasta Martin Scorsese, da mesma geração, exibirá em Cannes o seu filme mais recente, "Killers of the Flower Moon", sobre uma série de assassinatos de indígenas nos EUA nos anos 1920, com Leonardo DiCaprio e Robert De Niro.

O espanhol Pedro Almodóvar apresentará a curta-metragem "Strange Way of Life", western e LGBT, com os atores Ethan Hawke e Pedro Pascal, além de José Condessa entre os secundários.

O ator Michael Douglas (78 anos) receberá uma Palma de Ouro honorária pela sua carreira.

Este ano, as produções de longa duração dominam Cannes, também na mostra oficial, com 21 filmes, sete deles dirigidos por mulheres, um recorde.

"About dry grasses", do turco Nuri Bilge Ceylan, dura 3h17; o documentário chinês "Youth Spring" tem 3h40. As duas produções denunciam a atmosfera de países submetidos a regimes opressivos.

A lenda do cinema britânico Ken Loach (86 anos) tentará conquistar a sua terceira Palma de Ouro com "The Old Oak", também de forte teor social.

O italiano Marco Bellocchio (83 anos) exibirá "Rapito", filme que mostra o sequestro de um rapaz judeu para que receba educação como cristão em meados do século XIX na Itália.

E o espanhol Víctor Erice (82 anos), que apresentou a sua longa-metragem anterior em Cannes há três décadas, regressa à mostra com "Cerrar los ojos", numa mostra paralela.

Cannes também pode registar protestos, como na famosa edição de 1968: os sindicatos, contrários ao governo do presidente Emmanuel Macron pela sua reforma da Segurança Social, estão dispostos a perturbar o festival, com direito a cortes de energia elétrica, de acordo com a central CGT.

"Temos um bom diálogo com a CGT. Até o momento, nada do que está anunciado nos afeta", disse Frémaux.

...e a próxima geração

Além dos veteranos, Cannes também abre espaço para a próxima geração, como o realizador norte-americano Wes Anderson, que recorreu a um elenco de estrelas para "Asteroid City": Tom Hanks, Scarlett Johansson, Willem Dafoe, Margot Robbie...

Ou também com "Le retour", da francesa Catherine Corsini, filme que já provocou polémica antes da exibição pela sua abordagem da sexualidade adolescente.

Outro destaque é a jovem franco-senegalesa Ramata-Toulaye Sy, que disputa a Palma de Ouro com "Banel e Adama", a sua primeira longa-metragem.

Cannes também exibirá pela primeira vez um filme da Mongólia e um do Sudão.