A Judaica, cuja programação principal é focada no cinema, avança para a sua quinta edição e terá filmes e eventos em Lisboa, no cinema São Jorge (de 28 de março a 2 de abril), em Cascais (6 a 9 de abril), em Belmonte (datas intercaladas a partir de 5 de maio) e Castelo de Vide (a partir de 12 de maio). A sessão de abertura na capital fica por conta da antestreia nacional de “Negação”, obra com Rachel Weisz, Timothy Spall e Tom Wilkinson.

Em conversa com o SAPO Mag, Elena Piatok, diretora da Judaica, afirma acreditar que Portugal vive um momento extraordinário em termos de valorização dos vestígios do passado deixados no país pelos judeus.

"É fascinante. Enquanto noutros países da Europa assistem-se a vandalismos a sinagogas e cemitérios, aqui procuram-se cada vez mais sinais do passado judaico", comemora.

Os últimos judeus de Portugal

Um bom exemplo é o número de turistas que têm vindo à procura desse passado em locais como Belmonte e Castelo de Vide.

No caso da primeira localidade, a programação inclui um evento com a presença de João Schwarcz da Silva, neto de Samuel Schwarcz, o descobridor desta comunidade judaica nos anos 20.

Na época, este engenheiro de minas deparou-se com um grupo com uma existência tão remota que nem sabia que a Inquisição tinha terminado!

Para além dos debates em torno do seu trabalho, a sessão vai contar com a apresentação do livro de Sofia Afonso Ferreira que reconstrói, justamente, essa história.

Novos refugiados

Todo esse processo de renovação do interesse também é refletido pela programação de Cascais, que conta com eventos que estarão ausentes em Lisboa – entre os quais o concerto do Moscow Piano Quartet, que revisita obras de compositores judeus, e uma sessão de abertura com um dos destaques do último Festival de Berlim, “O Jovem Karl Marx”.

Segundo Piatok, o concelho concentra já um grande número de novos exilados – seja fugindo do antisemitismo em França, do Brexit inglês ou do ambiente tenso que se vive na Turquia.

A negação do Holocausto

“Negação”, o filme de abertura, aborda um complexo caso judicial ocorrido no final dos anos 90, quando o historiador britânico David Irving (Timothy Spall), negacionista do Holocausto, processou a Penguin Books e a autora Deborah Lipstadt (Rachel Weisz) por difamação.

Em tribunal, caberia a Lipstadt provar que a “solução final” nazi, que incluía o uso de gás nos campos de concentração, realmente ocorreu.

Para reforçar a importância do tema numa época de retorno dos populismos xenófobos, a programação da Judaica inclui o debate “Negacionismo – Pós-Verdade. Defender o Indefensável?”.

“Não queria que as pessoas ficassem apenas com aqueles poucos minutos para debater após a sessão do filme. Por isso organizamos um debate no dia a seguir”, reforça a diretora da Judaica.

Obras vindas do Festival de Berlim, como “El Rey del Once” (foto) e “Indignação”, para além de “A Guerra dos 90 Minutos”, que satiriza o conflito Israel e Palestina (que vão jogar a sua sorte numa partida de futebol… em Leiria), são outros títulos da programação.