Violeta, interpretada por uma sensual Alessandra Negrini, é uma dentista do Rio de Janeiro, casada e mãe de um menino de 15 anos. O casal parece viver bem no novo apartamento que acabou de comprar e a paixão parece estar acesa, uma vez que
«O Abismo Prateado» começa com uma tórrida cena de amor.
No entanto, pouco tempo depois, um «terremoto» abala a vida de Violeta, quando seu marido, interpretado por Otto Jr, lhe envia de Porto Alegre uma mensagem a dizer: «Meu amor, já não te amo mais. Sinto que estou sufocado ao teu lado e vou embora para a Patagónia».
O filme, realizado por
Karim Ainouz (
«Madame Satã») conta as 24 horas que se seguem na vida de Violeta, a sua peregrinação, o seu desespero, o seu desejo de partir imediatamente até Porto Alegre em busca do marido.
A argumentista B
eatriz Bracher disse que o filme «não pretende explicar as razões psicológicas da separação. Ele começa com uma forte cena de amor para que logo seja sentida a ausência do homem», explicou.
Já Karim Ainouz falou da canção de
Chico Buarque que o inspirou a pensar na história. «Certa noite, quando eu estava num troço de Copacabana onde o mar bate muito forte e a onda já levou muita gente, notei esse perigo, o abismo», explicou. «A separação para ela é como um terremoto e a canção é a partida do processo. Talvez dentro de algum tempo, quem sabe daqui a uns 10 anos, será melhor. A personagem da qual trata
«Olhos nos olhos» também é uma mulher abandonada», analisa.
«Chico Buarque é um dos maiores compositores do Brasil. Muitas de suas músicas têm a ver com o Rio de Janeiro, onde há esse forte contraste entre a natureza e a civilização. Queria que o Rio fosse como um personagem, como um espelho da personagem de Violeta», considerou.
«Venho do Nordeste do Brasil, onde existe uma estrutura matriarcal muito forte, uma vez que muitos homens abandonam as suas mulheres. Queria falar dos maridos que se vão. Este parece-me ser um tema muito importante para as mulheres brasileiras», acrescentou.
Na sua solidão, Violeta encontra-se com um jovem pai e sua filha, abandonados pela mulher. «Isso fá-la sair de dentro de si mesma e dar-se conta de que outras pessoas vivem a mesma situação que ela», afirma o realizador.
Alessandra Negrini disse que «a separação ocorre após uma ligação telefónica, só se escuta a voz, enquanto a canção de Chico Buarque entoa algo como «se voltar e olhar nos meus olhos, verá que terei rejuvenescido»».
«O importante para mim era entrar nesse estado de espírito da mulher abandonada, onde não há um enredo, tudo se dá através da emoção, do sentimento», afirmou a actriz.
Numa das cenas do filme, vê-se Violeta a dançar sozinha numa discoteca ao som do tema «Maniac», da banda sonora de
«Flashdance». «Esta música faz ligar a memória, é uma música muito importante para a nossa geração. E quando Violeta a ouve, entra como que em transe, como se se se ligasse uma época de 15 anos atrás, da última vez em que foi a uma discoteca», disse Ainouz.
SAPO/AFP
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